sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

MACAÍBA E AS ESTRELAS

Impressionantemente a nossa cidade ainda (se permite) viver em um estágio de demência.
-Não sei...
-Nunca ouvi falar...
-É de Macaíba?
-Existe aqui?
E assim a nossa historia é repassada para os nossos descendentes.
-Que história?
Pesso desculpas aos que se questionam no momento pela nossa história, pelos nossos registros e o que de importante aconteceu e acontece em nossa cidade.
-Existe documentários, livros direcionados a escola, se sabe sobre os seus?
Os livros sào direcionados aos interesses de quem os escrevem e termina floreando os seus. Os jornais da cidade segue a mesma receita e terminam documentando passagem dos seus, dos interessados.
Inicio esse momento com essas interrogacões, com esses questionamentos para registrar a minha idgnacão com tudo o que acontece de BOM com os nossos na diversificadas capacidades, contribuicões fabulosas, merecidas de registros e reconhecimentos e nada disso acontece. Hoje falo de Rossini Quintas Perez, um macaíbense, artista plástico e que hoje reside no Rio de Janeiro. Ele nasceu em Macaíba em 1932 e aos oito anos de idade deixa a nossa cidade com a família rumo ao Rio de Janeiro. O acadêmico conhece a obra de Portinari e se apaixona e em seguida os desenhos de Edvard Munch e se entregou de corpo e alma a técnica utilizada pelo Munch e assim, o Rossini se torna um dos precursores da gravura abstrata, masco da arte comteporânea brasileira, e também foi um testemunho vivo das transformacoes i intervencões que sofreu a paisagem carioca, registrando o que podia através da sua visão seletiva. A importância de Rossini para a história da arte brasileira é de um peso como todo aquele que forjou no tempo a história através da arte.
-Num sei disso,não...
-Nunca ouvir falar..
-Ro o que?
Quem sabe, um dia, Anderson Tavares ou um outro historiador reuna tudo o que de importante tenha acontecido e conteporâneo nessa cidade linda de viver.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

MINE TEXTO PARA TEATRO



MINE TEXTO PARA TEATRO

“PRA QUE VOTAR MEU BEM?”



PERSONAGENS:


ATOR 1

ATOR 2

ZAZÁ

TICA

                                                             VIRGULINA





ATOR 1: E assim se registrou a criação da humanidade. Entre dilemas, macacos, Eva e Adão, ciência e religião, o ser humano cresce na pergunta, em uma eterna interrogação. Questionar é buscar conhecimento e respondê-los é limitar, pontuar. E novos porquês irão nascer a cada dia, depois de cada ponto que vier a acontecer.

ATOR 2: Quem morrerá primeiro? Qual será o último ser vivo na terra? Qual o lado que assistirá o outro a vencer? Qual são os números da próxima mega sena? Quem essa corrida vencerá?

ATOR 2: E a lua, o ônibus espacial e os ETs?

ATOR 1: Onde estará você com as suas neuras e anseios, desejos e sonhos? Onde estarás?

ATOR 2: O futuro a Deus pertence, assim diz os religiosos, e aos políticos de bom e mal caráter!

ATOR 1: Deus? Políticos? Onde você está querendo chegar?

ATOR 2: essa introdução é para apresentar a hilariante historia de uma figura importantíssima no processo evolutivo humano que é o eleitor!

ATOR 1: O eleitor? Pensei que eram os políticos; como o presidente, senadores, deputados, vereadores e prefeitos. Que valia tem o eleitor?

ATOR 2: É com esse questionamento que iremos apresentar a historia de uma eleitora e cabo eleitoral que a sua vida viu se transformar com essa historia de política que ela nunca quis saber, pois só ia lá votar.

ATOR 1: A historia da confusa, mas gostosa dama da noite; Madame Zazá!

ZAZÁ: Sou eu! Mas antes que vocês dois continuem a contar minha historia, eu gostaria de lembrá-los do que falei em relação ao meu nome.

ATOR 2: Nome?

ATOR 1: Que nome?

ZAZÁ: Os bichinhos! As cacholinhas do juízo tão cheia de coisas importantes e não dão realmente pra lembrar-se de uma coisa tão sem importância como essa, num é meus bichinhos? Pois prestem atenção que eu vou relembrar: Como eu já disse há vocês uns dias atrás que eu era casada, mas muito infeliz, o meu marido não me completava e eu ficava traído ele em pensamento, desejava até o meu sogro. Foi aí que resolvi deixar a casa e ir morar no gango. Sempre usei o nome de batismo, depois o de casada, mas no gango me apelidaram por Zazá e por Zazá ficou. Agora, vocês sabem que num vivo mais nessa vida de frega. Vamos dizer que me aposentei e quero dar um chega pra lá no passado e viver a minha velhice em paz. Num nego a ninguém o meu passado, pois até então eu era muito boa no mexido, mas prefiro deixar no passado e por isso quero que vocês me chamem pelo meu nome de batismo que é Raimunda Tertuliana dos Badalos. Raimunda era o nome de minha avó, Tertuliana foi herança de mãe e os Badalos de pai. Prestaram bem atenção? Então vocês podem continuar!

ATOR 2: Nos desculpe pelo esquecimento e obrigado pela lembrança.

ATOR 1: E o espetáculo não pode parar!

ATOR 2: E nós artistas de teatro temos o orgulho de apresentar!

ATOR 1: E 2: Pra que votar meu bem!

ZAZÁ: E pra que votar, hein?

ATOR 1: O voto decide a historia humana, diz o que é bom ou ruim e tem o poder de revelar nas pessoas o bom de ser assim:

ATOR 2: Bons e ruins!

ZAZÁ: Eles pensam que dessa vez me enganam? Que vão me iludir com promessas e uns carocinhos de feijão? Dessa vez a bestinha aqui está é muito da acordada. Pode vim bater na minha porta! Recebo tudinho e deixe depois que euzinha sei coar o chá deles bem direitinho. Deixe!

ATOR 1: Todo e qualquer cidadão precisam estarem bem conscientes em quem estão votando.

ZAZÁ: não entendi seu moço.

ATOR 2: A senhora precisa está ciente em quem se deve votar.

ZAZÁ: Cuma?

ATOR 1: Preste atenção, faça ligação e comparação, analise a proposta que estão lhe apresentando e quem realmente essa pessoa é, o seu caráter e o grau de honestidade daquele que está lhe pedindo atenção. O seu voto é capaz de transformar o destino de uma nação.

ATOR 2: Vote em quem der mais!

ZAZÁ: não! Isso nunca mais!

ATOR 1: Aquele puxadinho, o enterro do vovô, uma dentadura nova, um emprego pra o seu amor ou aquele favorzão que nem ralada você tem condições de pagar!

ZAZÁ: Vai, pára! Não me deixa confusa! Eu não quero nessas coisas pensar!

ATOR 2: E as telhas para o seu barraco terminar, vai comprar ou o político vai lhe dar?

ZAZÁ: Não! Isso nunca mais! Passei a vida inteira fazendo isso, eu e os meus, e quando esses felas da mãe ganhavam, davam banana pra todos nós, só usavam a gente. Sou meretriz, sim senhor, sempre vivi mendigando nesse bordel de terceira, migalhas de homens sujos, fedorentos, bêbados, a maioria sem querer usar preservativo e o pior; a descriminação que nos colocava cada vez mais pra baixo. Cuspiam no prato em que comiam. Mas quando chegam ao ano de eleição, próximo ao mês da votação, aparece gente de tudo o que é canto pra o meu voto conquistar e me beijam, me abraçam, me baba toda e me chamam de linda. Só faltam na minha tapera mijar pra demarcar o canto e nenhum outro ali encostar, prometendo tudo o que é bom, de até a minha tapera mobiliar; Mas depois que passa a eleição, ninguém conhece mais ninguém e começam de calçada mudar e tem muitos que na rua deixam de passar, pra falar com os eleitos precisa um batalhão enfrentar. Pra mim chega de ser burra e deixar de ser enganada.

ATOR 1: Receba o que lhe derem , engane a todos dizendo que vai votar!



ATOR 2: E se aparecerem dois candidatos de uma só vez em sua porta a bater?

ATOR 1: Diga que os votos são divididos. Que todos votam em quem você mandar!

ATOR 2: use as armas deles e também comece a enganar!

ATOR 1: Ladrão que rouba ladrão...

ZAZÁ: É mesmo né. Boa idéia! É isso que eu vou fazer e... Ladrão que rouba ladrão... É só ele aqui aparecer batendo palmas, todos faceiros, e pergunto quando eleitos forem o que é que por mim poderão fazer?

ATOR 2: As doações!

ZAZÁ: Eu quero, me dá, é meu passa pra cá!

TICA: Zazá! O que é isso?To passada. Se meus olhos não presenciassem, se me contassem eu não ia acreditar.

ATOR 1: As vizinhas, a senhora, não poderá enganar!

ZAZÁ: É, né, a carne é fraca e estamos passando tanta precisão.

TICA: Mas era a senhora que batia nos peitos e gritava para toda a rua escutar que fela da puta nenhum iria te enganar mais e que quando chegassem na sua porta com o sorriso de quenga ruim a senhora botava os cachorros em cima pra todos saírem correndo, não dizia?

ZAZÁ: Mulherzinha, fale baixo e vamos lá dentro conversar.

TICA: Nunca! Nem que eu tenha que esmolambar, mas não me venderei nunca mais.

ZAZÁ: Tica mulherzinha, nunca diga não, não abra a boca pra dizer dessa água nunca beberei.

TICA: Zazá acorda mulher! Aquela cesta básica que tu ganhaste na eleição passada se acabou em menos de uma semana e você durante esses quatro anos teve que ralar muito se não morreria de fome e só quem enricou foram eles e nós nada! Você sempre se ilude que também terá quatro anos para engordar.

ZAZÁ: Eu sou aposentada, mulherzinha. E você pode me dar o que eles me deram pra votar neles.

TICA: Zazá, você mesma disse que eu fosse as ruas, na escola onde trabalho, por onde passar, que não votem nesses ladrões; você foi a primeira a protestar e agora, por uma miséria está a se sujar.



ZAZÁ: Mas, mulherzinha, a eles eu também vou enganar.

TICA: Zazá! E a sua honra, e a sua moral onde é que vão ficar!

ATOR 2: Aqui, acolá, em todo o lugar!

ZAZÁ: Pia mulherzinha que belezura! É o povo do encarnado.

ATOR 1: É só espirrar que encontra ladrão político e depois que se elege se transforma em políticos ladrões.

ATOR 2: Mas os muros negros da ignorância começam a cair!

ATOR 1: O tempo do troca troca, voto vezes favor já não se reina mais.

ATOR 2: O que vale é o histórico desse político; o que ele já fez, a proposta dele, o que fará em prol do seu povo antes e durante a sua gestão.

ATOR 1: Nada de politicagem, nada de políticos ladrões, nada de falcatruas!

ATOR 2: O povo se conscientiza, se cala, mas pensa, analisa e responde no momento exato.

ATOR 1: No silencioso momento do principal gesto cívico!

ATOR 1 e 2: A hora de votar!

ZAZÁ: Muito bem! Já ganhou!

TICA: Que arrumação é essa?

ZAZÁ: vala-me Deus! Agora é o povo do azul!

ATOR 2: Povo unido jamais será vencido! Esse é um país que vai pra frente! Decola, Brasil! Diretas já! País democrático! Não me deixe só! Que Deus nos proteja e bla, blá blá.

ATOR 1: Mais projetos de assistência social, remédios, escolas, frentes de trabalho, baratear o sacolão! Tudo para que o pobre, o mais humilde tenha comida todos os dias em sua mesa!

ATOR 2: Não falo pra mim e nesse momento não estou pensando em mim, mas vivo exclusivamente pensando no melhor para vocês!

ATOR 1: E que Nossa Senhora dos Desesperados, a associação dos santos protetores, o santo Papa, o inigualável Lutero, o mentor Alan Kardec, e toda a irmandade dos ritos afros estejam abençoando todos vocês que são as coisas mais importantes da minha vida! E vocês juntos a mim oraremos a mais forte de todas as rezas em prol da nossa vitoria!

ATOR 1 e 2: Eu amo vocês!

ZAZÁ: Viva! Já ganhou!

TICA: Acorda Zazá!

ZAZÁ: hein?

VIRGÔ: oi, gente boa e plugadinha! Eu, Virgulina Bocavite, diretamente deste lugar irradiando o maior axé pra todos que estão nos vendo ou só escutando, através do meu beijinho, muito axé! Nesse momento vamos entrevistar um símbolo vivo da historia da política nacional, aquela que ainda conserva as tradições, e já está sendo considerada por alguns estudiosos renomados, o mito da política folclórica nacional; Dona Zazá!

ZAZÁ: Raimunda! R-a, Ra, i-mum, mum, zurugundum, bum, d-a, da! Raimunda!

VIRGÔ: Tudo bem, minha flor. Axé pra você e pra euzinha! Virgulina Bocavite está aqui, diretamente da residência de dona Raimunda, a fina nata dos cabos eleitorais desse país, aquela que já foi tema de monografia e estudo para mestrado uspiano, para saber realmente em quem a senhora vai votar.

TICA: Espia o que tu vai dizer criatura de Deus!

VIRGÔ: Concentração! Muito axé floral para a senhora. Mantras iluminados para melhor visualização da resposta.

ZAZÁ: Não preciso dessas baboseiras pra dizer em quem eu vou votar dona Vick.

MARGÔ: Virgulina Bocavite, dona Zazá! Gostou?

ZAZÁ: Desaforada e vingativa!

VIRGÔ: Mas tudo é axé no programa iluminado da Virgô! E então dona Raimunda, em quem a senhora irá votar nas próximas eleições?

TICA: Vigie o que vai dizer!

ZAZÁ: Em quem der mais!

TICA: Acorda Zazá!

VIRGÔ: Dormindo ou acordada, na manhã, na tarde ou na madrugada, euzinha que estou sempre cheia de axé para emanar registrei nesse poderosíssimo meio de comunicação só para vocês a resposta de dona Raimunda! Falou, Virgulina Bocavite registrou!

TICA: E nossa luta, Zazá?

VIRGÔ: No padeiro do encarnado ela garante o pão de cada dia e com o médico do azul ela tem de graça consulta e remédio. Ficou uma dúvida! Só não ficou bem claro se a senhora vai votar no padeiro ou no doutor?

ZAZÁ: Sostô, a senhora, letrada nas comunicações não entender a minha resposta!

TICA: E imagine eu que estou na missa querendo ver o padre.

VIRGÔ: Responda queridinha que o tempo não pode parar!

TICA: Acorda Zazá!

ZAZÁ: Que acorda, Tica mulherzinha! Será que tu não ta vendo que essa zinha quer aparecer mais do que eu? E ainda ta tendo a liberdade de me chamar de Zazá? Pra ela o meu nome é Raimunda Tertuliana dos Badalos! Tertuliana da minha mãe e os Badalos do meu pai! E dou-lhe mais um aviso; Não tente mudar o rumo dessa historia!

TICA: Zazá...

ZAZÁ: Raimunda! E cale essa boca, Tica!

VIRGÔ: Muito bem pra quem pensa bem e tem o juizinho no lugar! E euzinha, a repórter mais axé desse país cheio de encantos mil estou me despedindo e deixando os eleitores com a cabecinha com as duvidas a fervilhar; Em quem votar!

ATOR 2: Ela cansou da vida eleitoral e decidiu não mais votar.

ZAZÁ: Isso mesmo.

TICA: Mas nós precisamos votar!

ZAZÁ: Não voto e pronto.

TICA: É o nosso voto que decide o destino desse país!

ZAZÁ: Podem morre de me bajular que eu continuo dizendo que não voto e ainda tenho a caca de pau de mandar todos tomar naquele canto.

ATOR 1: Foi aí que apareceu a fervilhar em sua mente todos os questionamentos feitos por Virgulina Bocavite e Zazá começou a pensar.

TICA: Graças a Deus!

ZAZÁ: Bexiga taboca, o meu nome é Raimunda! Parem de me chamar pelo apelido, me façam sentir gente! Meu tempo de gango já passou e agora estou tentando me reintegrar na sociedade e quero começar pelo meu nome.

ATOR: Ta certo, dona Raimunda, nos desculpem, mas agora comece a pensar.

ZAZÁ: Voto ou não voto, o que farei e quem irá me ajudar?

TODOS: Chapolim!

ZAZÁ: Quem?

VIRGÔ: Euzinha!

TICA: De novo?

VIRGÔ: Virgulina Bocavite, diretamente desse exato local para todo o Brasil, emanando muito axé através dos meus beijinhos! Vamos agora entrevistar uma pessoa patrimônio da humanidade, um monstro sagrado da política nacional, aquela que detém a historia em seus próprios pés...

TICA: Chega!

VIRGÔ: Ai!!!

ZAZÁ: Valeu, Tica! Chega de lengação dona Virgulina e vamos logo para os finalmentes. Diga logo o que quer saber e tome o seu rumo.

VIRGÔ: Tudo bem dona Zazá.

ZAZÁ: Raimunda! Raimunda Tertuliana dos Badalos! Tertuliana da minha mãe e...

TODOS: E os Badalos do seu pai!

ZAZÁ: Gente, e todos vocês já viram os badalos do meu pai?!

VIRGÔ: Tudo axé, dona Raimunda! Estou aqui para questionar o direito de votar!

TICA: Muito bem dona Virguliana!

VIRGÔ: É Virgulina, meu amor!

ZAZÁ: Questionar pra quê?

TICA: Calma, Zazá.

ZAZÁ: Não entendo você Tica? Mulherzinha se decida. Uma hora você quer que eu acorde e agora quer que eu me acalme.

VIRGÔ: A sociedade dos cabos eleitorais quer saber se a senhora, a rainha de todos eles; vota ou não vota?

ZAZÁ: Eu hoje tenho personalidade, menina. Sou pobre, mas sou limpinha. Não pense porque eu vivia abrindo as pernas para ganhar dinheiro não era porque eu era idiota. Era a minha profissão e dela eu sobrevivo até hoje. Pra ta aqui dizendo isso, eu já apanhei muito nessa carinha que mamãe beijou defendendo nome de político “a” ou “b”. Já levei muita carreira em comício, me vestia de azul ou encarnado, já briguei com visinho de ficar intrigada de fogo-a-sangue; já fui aos bofetes e me esborrachei muito pulando por essa cidade a fora gritando o nome desses safados. Você não sabe o que é isso menina!

VIRGÔ: Ta gravando tudo?

ZAZÁ: Você não sabe o que é passar duas ou três noites em cima de caminhão, idolatrando quem não presta rouca, esgoelada de tanto gritar o nome desses come voto e caga ouro.

TICA: Bonito, Zazá. To emocionada.

ZAZÁ: Você, mulherzinha, ta verde demais. Você é da safra dos caras pintadas, pra cima e avante, e eu sou do tempo dos ignorantes, do voto de cabresto e isso tudo graças a Deus ficou pra trás. Estou aqui, nesse momento consciente, livre, sem medo de nada, sem rabo preso, pronta pra o que der e vier, porque eu sou brasileira!

TICA: Viva Zazá!

ZAZÁ: menos Tica.

VIRGÔ: Tudo bem e a maquiagem eu estou a retocar e no axé se muita luz de dona Raimunda eu vou perguntar! A senhora vota ou não vota?

TICA: Claro que ela vota sua tapada!

ZAZÁ: será que você não entendeu o que acabou de ouvir?

TICA: O problema dela é votar!

ZAZÁ: Aí é que tora a urna no meio.

TICA: deixar de votar não resolve nada!

VIRGÔ: Vocês estão me deixando confusa! Para! Não brinquem com o meu axé!

TICA: É melhor tu ficar calada, mulherzinha.

VIRGÔ: Ficar calada não senhora! Uma repórter com duvidas é o público com duvidas também. No inicio dona Raimunda não votava, depois votava em quem desse mais e agora me embananou toda.

ZAZÁ: O problema, dona Virgulina é saber quem desses que estão candidatos é os menos safados.

VIRGÔ: Cá pra nós, dona Raimunda; esse também é o meu grande dilema. Em quem eu devo votar!

ATOR 2: Em quem lhe der um saco de cimento!

ATOR 1: Um sacolão!

ATOR 2: Uma prótese dentaria!

ATOR 1: Um vale gás!

ATOR 2: Vote em quem lhe der alguma coisa!

ATOR 1: Ou então, não vote, não!

VIRGÔ: Com toda essa confusão, é melhor e me despedindo e um axé bem lua nova eu vou deixar. Virgulina Bocavite diretamente desse lugar para a sua consciência que eu espero que não esteja a descansar.

ZAZÁ: Antes que a senhora, dona Virgulina vá embora, preciso lhe dar essa informação e é bom que esse povão veja que a duvida não é só minha não. Mesmo aqueles beneficiados, com terrenos, com construção e até mesmo os que ganham viagens de carro, trem ou avião, nem esses sabem se o candidato do seu político elegerá.

TICA: será, Zazá?

ZAZÁ: Acorda, Tica!

ATOR 2: Até o público estão em duvida se nessa eleição votarão!

ATOR 1: Ah! Mas só vou votar com ele porque é meu primo, se não fosse...

ATOR 2: Graças a deus e segundo fulaninho, que a minha mãe ta viva. Esse é um favor que nem ralado eu pago. Por isso que eu vou votar nele.

ATOR 1: A minha vizinha é tudo pra mim, uma mãe. Ela me pediu pra votar num homem que eu nem sei quem é só porque ele arranjou um emprego pra filha dela na prefeitura e eu vou votar.

VIRGÔ: Se é assim, o meu voto já sei a quem dar.

TICA: E se você um emprego de ASG numa escola me arranjar, ficarei muito agradecida.

ZAZÁ: Até tu Tica!

ATOR 2: O voto é que decide quem vai nos representar, desde a nossa rua através de um vereador ao nosso país, através do presidente.

ATOR 1: Precisamos saber escolher, precisamos muito pensar!

ZAZÁ: E se não tiver um que preste? Se for farinha do mesmo saco?

TICA: E se os que se candidatarem forem todos corruptos, ladrões?

TODOS: O que faremos?!

ZAZÁ: Em toda a minha vida de putada, nunca, nenhum prestou! Saíram ricos e lá o rombo deixou e aquele direito, honesto que entrar, coitado, só vai limpar aquilo que os outros gozaram.

TICA: E esse direito, será que o tempo o corrompe?

TODOS: Será?!

ZAZÁ: garanto que mesmo que mostre trabalho, mas o dele ele vai levar.

TICA: faz uma obra e come quatro. Centa um paralelepípedo no chão e cinqüenta no bolsão.

ZAZÁ: Ta! Conheço um que saiu pobre como entrou.

TODOS: Um santo! Milagre!

ZAZÁ: Mas a família dele saiu toda rica.

TODOS: Ah!

ATOR 2: Enquanto o dia “D” não chegar, vamos observar os erros desses que estão aí!

TODOS: No poder!

ATOR 1: se prestam ou não, somos nós que temos que acertar.

TODOS: Basta! Nós temos que acertar

TICA: Pelo menos dessa vez!

ZAZÁ: Vamos parar a conversa e esse local vamos animar, afinal, vocês ainda estão no bordel da Madame Zazá!

VIRGÔ: E a inclusão social?

ZAZÁ: deixa pra depois dessa campanha!

TICA: Zazá!

ZAZÁ: Ah! Deixa pra lá! Tudo é festa, vamos brincar! Pra que falar de voto agora, se isso nunca vai mudar?

TODOS: Será?

ZAZÁ: Um dia a porca torce o rabo!

TODOS: Pra que votar meu bem?!





JUSCIO

MACAIBA (RN), 10 DE MARÇO DE 1987.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

ELENCO DA CIA. TEATRAL BOITATÁ/MACAÍBA-RN-BRASIL

MINES TEXTOS PARA TEATRO QUE ESCREVO DIRECIONADO A UM TRABALHO QUE DESENVOLVO EM SALA DE AULA.

MINE TEXTO PARA TEATRO                        

“BALA NO BREU”

PERSONAGENS:
Bartolomeu
Rita
Cachorra (Bala)

Bartolomeu = Tem coisa que me encafifa, me deixa com o juízo friviando, quando, por exemplo, eu fico comparando a cantoria de hoje, as modas do morro e as do meu sertão. É tudo muito parecido, eu acho. Pra mim é como se fosse a pareia do sofrimento, do ser vivente morto-vivo da marginalização.

Rita = Bartô!..

Bartolomeu = Essa é a voz da minha patroa. A graça dela é Rita e a minha é Bartolomeu, seu criado. Não arrepare meus modo, é porque sou lá do Nordeste, de Acari. Que saudade. E tamo aqui tomando conta desse sítio de um filho meu que veio muito novo, pro sul e graças ao meu bom Deus e santa padroeira do meu bom Acari, ele já fez o seu pé-de-meia.

Rita = Bartô!!

Bartolomeu = Já vai!... A gente sofre sem água, sem terra pra cortar, sem meio de sobreviver, com a morte a espreitar, querendo te lamber e você sobreviver, imigrar... Bonito.

Rita = Ta com as oiça donde Bartolomeu que num me atende? Arre! Umbora pra casa, home!

Bartolomeu = To indo, num já disse! Diacho de pressa.

Rita = Diacho de pressa que nada Bartô! É a mistura que já ta pronta e tu sabe os menino cuma é. Óia, inté Balinha concorda com o que falei. Num é Balinha? Tu num desse o banho em Balinha, home? Vai pra lá puinguenta! Oh Bartô! Bala ta só rabujo! Quando é que tu vai banhar ela, home? Fique aí! Se tu vier atrás de mim, sua rabugenta; te lasco de ponta a ponta! Oia a bichinha, Bartô... Se sobrar um cardinho eu trago, fia. A bichinha... Ta vendo home, inté o bicho bruto quer comer e tu inda fica nesse chove-não-molha, me fazendo de besta... Bartô, eu já te pra tu num ficar proseando com esse povo da vizinhança, mai tu num toma conseio, né home? Num dê trela pra eles! Tu tava com as oiças bem abertas quando o nosso fio falou do povo desse morro... Faça como eu, home, que quase num prosea. Por falar nisso, tu ta proseando com quem mermo? Quem bexiga ta nesse breu que num to vendo? Ou ta tu com a bexiga no couro, com o estopô balaio pra ta falando sozinho?... Vai falar não Bartô? Para Bala? Deixa de esfregado, sua rabugenta! Presta atenção Bartô, antes que eu te mande lá pra aquele lugar, eu vou te dizer logo antes que seja tarde...

Bartolomeu = Que num seja desgraça.

Rita = A Bardira ta prenha.

Bartolomeu = Dessa vez ela viu a cara?

Rita = Que cara?

Bartolomeu = Do cara que embuchou aquela safada.

Rita = Terceira barriga.

Bartolomeu = Só num me diga que foi o espírito santo outra vez.

Rita = Pena que comadre Dalva morreu.

Bartolomeu = Que Deus a tenha em um bom lugar.

Rita = Os dois aborto, nem ralado nós paga o favor.

Bartolomeu = Fez pra tu, Rita! Me tire esse pecado das costas.

Rita = Tu é mermo um burro empacado, Bartolomeu. Home abre os óio! Cuma era que tu ia criar mais dois bacurins se num temo nem pra os que tão vivos?

Bartolomeu = Pra tudo se dava um jeito.

Rita = Agora to encafifada com tu, proseando com esse breu. Quem devera de ta se escondendo que não quer que eu veja as funsas? Eu sei que tu ta querendo me dizer Balinha, mai tu num proseia, mai agora eu vou prosear e se dane se num quiser escutar.

Bartolomeu = Passa pra casa, Rita e deixa de lezeira.

Rita = Já mudou a prosa, seu Bartô? Se aperreou, foi?

Bartolomeu = Deixa de esfrega Bala e passa tu pra casa também.

Rita = Tu ta me comparando com a rabugenta da Bala é Bartolomeu?

Bartolomeu = Deixa de me aporrinhar, Rita. E eu sou lá home de comparar gente com bicho bruto e ainda com essa pulguenta da Bala. E para de me lamber sua infeliz!

Bartolomeu = Você ta querendo se engraçar na frente desse breu, ou de quem ta escondida aí só pra mostrar que é o machão, o homão, o mandão lá de casa, é Bartô?

Bartolomeu = Marche pra casa!

Rita = Pronto! Agora torou a biela no meio e num tem vivente nesse mundo que me tire daqui!

Bartolomeu = Rita...

Rita = O que é?! Vai me bater, vai me esfolar, vai arrancar o meu couro em tira e me chutar nesse chão inté eu botar a tripa gaiteira pela boca.é?!

Bartolomeu = Para Bala! Rita, num me roube o miolo da minha cachola.

Rita = Eu sou uma infeliz. Meu Deus! Os pecados do mundo todo o senhor botou nas minhas costas pra eu carregar!Por quê?! O que é que te devo senhor?!
Bartolomeu = Para de falar heresia, Rita e umbora pra casa de uma vez, muier.

Rita = Sem saber quem ta se escondendo nesse breu? Nem que a bexiga tussa eu num arredo o pé inté essa alma penada sair daí ou eu num me chamo Rita de Cássia. Muito bem Balinha, você tumbém.

Bartolomeu = Home, passe pra casa que to me aporrinhando com essa tua sisma.

Rita = Me solta Bartô, me solta seu safado! Me ajuda Balinha...

Bartolomeu = Não se atreva, Bala!

Rita = Não! Seu criminoso! Cuma é que tu num tem coração, seu bicho bruto! Me mate, me arregace, mai num maltrate a Balinha...Me solta!!!...

Bartolomeu = Arre!

Rita = A bichinha... Deixe quieta Balinha. O que é do homem, o bicho num come, sem querer te ofender, coitadinha. Que mundo cruel, que sina meu Deus! Num tem nada, não Bartolomeu; um dia tu vai espiar pra trás e vai se arrepender de ter me enganado e me humilhado diante desse breu que esconde alguém e de ter chutado a pobrezinha da Balinha que ta com a pata doendo... Num chore Balinha.

Bartolomeu = Tu num veio me chamar pra seiar, entonse, umbora.

Rita = Bartolomeu. Eu já entendi o que é que a Balinha ta tentando me dizer desde que cheguei aqui. Cuma sou jumenta, meu Deus! Cuma é que eu num entendi tudo logo.

Bartolomeu = Ta vendo que esse troço pulguento num ta querendo dizer nada pra tu, Rita. O que ela quer mermo é matar a fome. Ta vendo! Num instante ela se animou.

Rita = Balinha, santa cadelinha, olhe bem na regada dos meus botico e diga latindo...

Bartolomeu = Arre!

Rita = Deixe! Isso é confissão de mulher e de uma menina-moça que é Balinha.

Bartolomeu = E tu espera o que, Rita?

Rita = Me diga minha menina-moça, se nesse breu dos infernos tem algum rabo de saia?

Bartolomeu = Essa já é demais. Tu ta lelé?

Rita = Num se importe com ele Balinha e me arresponda com latido, bem latidosinho. Preste atenção, minha fofinha, que lá vem à pergunta: Me diga com toda verdade do mundo e com a verdade dos cachorros que nunca mentem; se tem rabo de saia nesse breu?... Latiu!! Ta vendo seu cabra safado como um ser vivente num mente. O que é Balinha? Diga minha menina-moça... Latiu mais uma vez! Bartô, Bartô, é prumode disso que tu ta me negando fogo em casa e me deixando doida varada, é Bartô? Onde é que tão essas quengas, essas rameiras destruidoras de casamento honesto! Eu casei moça Bartô, viuge, celada, menina-moça direita cuma é a Balinha e chega hoje, tu ta raparigando com esse bando de quenga que do breu num sai! Me mate, meu Deus que a vida acabou pra mim!

Bartolomeu = Que quenga, Rita. Deixe de inventar.

Rita = Quenga!!! Grito pra toda a vizinhança escutar, que eu sei que já tão com as oiça tudo ligada para asdepois ir fofocar. Ai, meu Deus! Eu quero morrer!!!

Bartolomeu = Ta bom, mai deixa pra morrer em casa asdepois de ceiar, e deitada.

Rita = Como pode você ser tão safado, tão cara de pau, tão água do pé de jarra, tão...

Bartolomeu = Para Bala! Um dia inda saio de casa prumode essa sua besteira.

Rita = Por causa da Balinha, minha cachorra... Você ta me comparando com essa rabugenta de novo, Bartolomeu?...Me rasgo todinha quando ele fica com essa cara de tacho, sem abrir a caçapa e me arresponder, trincando os dente cuma burro mulo e me ignorar. Eu fico irada.
Bartolomeu = Eu já disse que num tem nenhum rabo de saia nesse breu, e mermo que tenha eu num trairia tu com elas.

Rita = E prumode que tu num ta sendo home em casa, Bartô? Correspondendo com a tua obrigação de home?

Bartolomeu = Arre! Só se a fême que to me amigando é Balinha. Né Balinha?

Rita = E a safada inda abana o rabo.

Bartolomeu = Deixe a bichinha.

Rita = Péra lá! Essa sem vergonha... Bartô... Num me diga que tu ta se enrabichando pro lado dessa inocente... Olha pra mim Bartô, me presta atenção... É a última vez que eu vou perguntar e se tu num me arresponder, tu já sabe o que eu sou capaz de fazer. Tu sabe, né,Bartô? Vai pra lá sua quenga!, Traidora, acaba matrimônio, infeliz das costas oca. Arre que ódio!! Nas minhas funsas e eu como sega, num via. A vontade que me dá é de estrangular os dois. Só imagino esse monstro, tarado puxando na rabada dessa infeliz e ela revirando os ôio de prazer. Quero morrer, meu Deus de desgosto! Eu só quero que Deus me segure pra num fazer um estrago nas beiras dessa cachorra safada... Vai pra lá!!.. E no mijador desse troço que pra mim num arriba, mai pra safada... Óia a senvergonha. Essa traidora inda se diz ser minha amiga. Eu! Era eu que te dava comer e te banhava pra esse monstro...

Bartolomeu = Eu já disse que num traio tu com ninguém! Nem mermo com essa infeliz, que Deus me livre.

Rita = E cuma é que tu ta com essa pêia mole em casa, nas hora do rala pimba, Bartô? Me arresponda, se tu num ta frutificando com ninguém, seu Bartolomeu da Silva Junior! Seja home e me arresponda!.. Se tu baixar essa mão na minha cara, aí sim, tu num será home nunca mai na tua vida.

Bartolomeu = É um problema.

Rita = Que problema é esse? Tu virou mulé, é Bartô?

Bartolomeu = Num é isso Rita.

Rita = Entonse tu é uma florzinha? Meu Deus, eu passei esses vinte e quatro ano casada com um home mulé e só vim notar agora. Prumode o que tu me enganou esse tempo todo?

Bartolomeu = Num é isso Rita!

Rita = E é o que seu infeliz das costas ocas? Me diga agora prumode essa pêia ta morta pra mim!

Bartolomeu = Eu fui num doutor e ele me disse...

Rita = Escondido de eu Bartolomeu? Você num confia mai em neu que sou sua mulé! Mai com os outro tu se abriu, e ói se tu num se arreganhou, enquanto eu, esse tempo todo me martirizando, pensando que era eu, o azar do nosso bate-cocha. Tu num sabe Bartô, o monte de milacria que eu passei nas minha beira. Inté urtiga braba me ensinaram pra surrar a bichinha. E o formigueiro que assanhei e asdepois sentei em riba. Tudo pra te fazer feliz, pensando que a má era eu, morrendo de raiva, doida pra me trepar nos caibo, mai tu num se abalava, sempre caladão. Me ensinaram inté botar chifre em tu, com tu vendo, mai eu te respeitei e por trás, tu com segredo, indo pro doutor, todo lorde, enquanto eu me lascava com remédio do mato. Agora eu fico me perguntando prumode eu num te mato Bartô.

Bartolomeu = Tu me ama, e eu tumbém te amo Rita, é prumode isso que tu num me mata.

Rita = Oh Bartô, dessa maneira tu me deixa toda melosa.

Bartolomeu = E quanto ao doutor, ele passou um remédio que já to tomando e logo ficarei bom. Eu tava aqui, matutando, oiando pra esse breu, mastigando o meu juízo de cuma é parecido à música da roça com a música do morro, a que esses rapazotes cantam aqui, os nosso vizinho.

Rita = Inda bem que tu vai ficar bom, home. To doidinha. Bora comer Bartô, se é que ainda tem.

Bartolomeu = É Rita, vamo ver se os menino deixaram alguma beira pra nós.

Rita = Sabe Bartô, que agora me deu sardade de uma coisa.

Bartolomeu = Da roça?

Rita = De beijo.

Bartolomeu = Arre.

Rita = Vem cá Bartô, antes de chegar em casa, e vamo aproveitar esse breu. Ta vendo, inté Balinha concorda comigo.

Bartolomeu = Vamo pra casa e amastarde prometo. Vamo.

Rita = Viche! Me deu aquele calorão. Umbora amor.

Juscio
Macaíba /RN, 05/02/2006

terça-feira, 1 de setembro de 2009


MINE TEXTO PARA TEATRO

“Romeu, Julieta e Mimi”



PERSONAGENS:

01- Menino
02- Avô
03- Bonitinha
04- Romeu
05- Julieta
06- Mimi
07- Super-herói
08- Baratinha
09- Mãe



Menino: Aqui ta bom vovô! O lugar é perfeito!

Vovô: Aqui, Menino?

Bonitinha: No meio do nada? Não gostei.

Menino: É no nada que a fantasia acontece. Não é mesmo vovô?

Bonitinha: Como ele ta sabido, não é vovô?

Vovô: É mesmo Bonitinha, o seu irmãozinho está muito esperto. Como é que você sabe sobre o mundo da fantasia, Menino?

Menino: Na Internet, minha gente.

Bonitinha: Na net. Tinha que ser a net.

Menino: Lá existe um mundo de opções para pesquisa. Não existe mais essa de criança sem conhecimento e com medo do bicho papão. Vovô me responda uma coisa; o senhor ainda acredita em papai Noel, mula sem cabeça e que a criança é a cegonha que traz?

Bonitinha: Claro que o vovô acredita, não é vovô?

Vovô: Claro, Bonitinha. Com certeza o vovô ainda acredita no mundo da imaginação.

Menino: Pois vovô, na Internet mostra tudo, até como se faz criança. Eu já até assistir um parto normal e um cesariano.

Bonitinha: E como se faz criança, vovô? É a mesma coisa de se fazer bolo?

Vovô: Bem, minha netinha...

Menino: Espere aí, vovô! Não invente histórias mirabolantes porque pra cima de mim não cola mais. Eu já me sinto um rapazinho, vovô, e já to até pensando em começar a namorar.

Bonitinha: E o que é namorar, vovô?

Vovô: É o assunto da linda história que irei contar pra vocês, narrada por Luigi Da Porto, publicada em 1532 e imortalizada por William Shakespeare, em 1594.

Menino: essa é a nova! Ainda não tinha inventado o computador. Deve ser muito sem graça. Melhor vai ser, é eu ir pra lanrouse.

Bonitinha: Sem graça é você que não ta deixando o vovô contar a história, só atrapalhando.

Vovô: Você ta ficando um rapazinho muito inteligente, meu netinho, mas você já foi uma criança que acreditou e viajou no mundo do imaginário. Se não acredita, mas vamos respeitar quem acredita. Não é isso?

Menino: desculpa vovô. Prometo ficar calado e fazer cara de quem ta acreditando em tudo. Prometo.

Bonitinha: Faz bem. Se não ficar calado, eu chamo a mamãe. Continue vovô.

Vovô: Irei contar a mais bela história de amor de todas as historias; dos jovens; Julieta e Romeu.

Menino: Essa eu não conheço.

Bonitinha: Lá no seu computador sabe tudo não tem as histórias que o vovô conta.

Menino: E esse tal de William Shakespeare, a professora já falou nele.

Bonitinha: Sabia que o vovô sabe mais que o computador, Menino?

Vovô: Pois muito bem. Vamos sentar nesse cantinho para que vocês possam viajar no imaginário.

Bonitinha: Vovô pode colocar na história os meus bichinhos?

Menino: E os meus super heróis?

Vovô: Menos, crianças. Prestem atenção que irei começarei a história.

Bonitinha: Estou ansiosa!

Menino: Ainda preferia a lanrouse.

Baratinha: (entra cantando) Quem quer casar com dona Baratinha
Que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha?

Vovô: Dona Baratinha?

Bonitinha: Foi a minha imaginação vovô. O senhor falou em historia de amor e me veio logo na minha cabeça a historia da Baratinha com o senhor Dom Ratão.

Menino: Começou.

Baratinha: Quer dizer que essa não é a minha historia?

Vovô: Desculpem-nos, dona Baratinha, mas foi um equivoco no imaginário da minha netinha?

Baratinha: Quero nomes! Quero os responsáveis!

Bonitinha: Ai, vovô, eu to com medo.

Menino: A senhora sabe que vários personagens já desapareceram por que ninguém falava mais neles?

Baratinha: Isso é verdade. Já perdi muitos amigos assim.

Menino: E a senhora quer ter esse fim?

Baratinha: Claro que não!

Menino: Pois agradeça a minha irmãzinha por lembrar-se da sua historia e vá embora, por favor. Pois a historia aqui é outra.

Baratinha: Desculpem-me, todos vocês e muito obrigada por lembrarem-se da minha historia.

Bonitinha: Obrigado, meu irmão por resolver essa confusão que eu criei. Prometo controlar melhor essa minha imaginação. Agora vamos escutar a historia de Romeu e Julieta.

Baratinha: Céus! Romeu e Julieta! Posso ficar pra escutar, por favor?

Bonitinha: pode, sim!

Baratinha: Oba!

Menino: Isso não vai dar certo.

Bonitinha: Deixa vovô!

Vovô: Você promete ficar bem quietinha?

Baratinha: Prometo, sim!

Bonitinha: Vem pra cá, Baratinha! Pronto, vovô pode começar.

Vovô: Em uma bela cidade conhecida por Verona, existiram duas famílias rivais; os Montéquios e os Capuletos. Romeu era um Montéquio e Julieta uma Capuleto.

Bonitinha: E Julieta tinha um lindo gatinho, chamado Mimi!

Menino: Um gato?

Baratinha: Uma gata! Negra, linda, e um enorme rabo bem fofinho.

Vovô: Minha bonequinha, a Julieta não tinha animais de estimação.

Menino: É melhor o senhor deixar essa gata rabugenta ficar na história, caso contrário, o senhor ta comprando grande confusão.

Bonitinha: Mimi não era rabugenta! E me responda uma coisa vovô; a Julieta era boazinha?

Vovô: Sim, minha netinha, ela era uma jovem muito boa.

Bonitinha: Então, toda jovem boa tem uma gatinha que se chama Mimi.

Baratinha: Negra, linda e com um farto rabo.

Julieta: Licencinha, vovô; pode deixar, adotarei essa gatinha, não se preocupe, mas desde que o senhor continue a historia.

Bonitinha: Ta vendo! Bem que eu falei que a Julieta tinha uma gatinha e de nome Mimi.

Baratinha: E com um lindo e fofo rabo.

Vovô: Netinha satisfeita então vai continuar a história.

Menino: Não senhor. Se Bonitinha pode colocar a gata rabugenta na historia, eu também posso colocar um super herói.

Romeu: Super herói?!

Baratinha: Super o que?

Julieta: Estamos em Verona, minha gente, séculos atrás do de vocês, e ainda não existia essa história de super heróis.

Romeu: E pra que serve super heróis?

Baratinha: É remédio?

Menino: Quem mandou eles falarem vovô? Preste atenção vocês dois; vocês não fazem parte do lado de cá dessa historia, e quem ta do lado de lá como vocês, não podem se misturar com o lado de cá. Entenderam?

Bonitinha: Que confusão.

Baratinha: Será que eu também tenho um lado?

Romeu: Tudo bem desculpa. Mas vê se não atrapalha tanto a nossa historia.

Vovô: Bem, então vamos continuar a linda historia de amor.

Menino: Espera lá! E o meu super herói, como fica a participação dele nessa historia?

Vovô: Quando chegar a hora dele eu aviso pra o seu super-herói entrar. Pois bem, vamos continuar.

Bonitinha: Sem antes a minha Mimi entrar, nada feito.

Vovô: Ok. Entra Mimi.

Bonitinha: O que é isso vovô? Não senhor, desse jeito à gatinha vai ficar traumatizada e análise para gatinhas é muito caro. Vamos, faça uma entrada triunfal para a famosa Mimi.

Baratinha: Ai, to tão emocionada!

Vovô: Ta certa, minha querida.

Menino: É agora que entra o super herói, vovô?

Bonitinha: Primeiro a minha gatinha, né vovô? Eu falei primeiro.

Vovô: Prestem atenção; o vovô vai colocar a gatinha, o super herói e o que vocês quiserem, mas deixe o vovô continuar a história.

Julieta: Essa não!

Romeu: Protesto!

Julieta: Essas crianças querem bagunçar com a nossa milenar historia!

Baratinha: Nada contra a historia milenar deles dois, mas eu acho melhor o senhor contar a minha historia.

Romeu: Essa é uma história de respeito, épica!

Julieta: E não temos o dia todo pra vocês. Somos muito procurados e temos a agenda lotada.

Vovô: Desculpem-nos, mas é porque vocês não sabem como é ter neto.

Romeu: Ainda bem que não temos.

Menino: Isso é abuso demais. Vovô vai mudar de história e matar de vez esses personagens de nossas vidas.

Julieta: Não! Por favor!

Baratinha: Sim, sim, sim! Vamos agora para a minha historia! Que bom! Tenho que retocar a maquiagem, engomar o meu vestido e trocar de laço. Que emoção!

Bonitinha: Já! Não eram os valentões!

Romeu: Nunca me vi tão humilhado em toda a minha existência.

Menino: Milhares de vezes morri por amor, mas nunca alguém ousou mudar nada.

Bonitinha: E ache lindo, pois é o vovô que ta contando, se fosse eu, vocês iriam ver o que era bom pra tosse.

Baratinha: Melhor é contar logo a épica historia de amor de dona Baratinha e o senhor Dom Ratão. Já estou quase pronta.

Julieta: Que nem chegam a casar.

Romeu: Dom Ratão cai na panela de feijão.

Baratinha: Pior são vocês dois que morrem. Pra que pior.

Menino: Voltando para a história...

Baratinha: A minha?

Bonitinha: A deles, Baratinha.

Vovô: Bem. Essa é uma história de amor, doce e infinita, que nasceu em uma roda de dança, numa noite de festa, na cidade de Verona.

Bonitinha: não se esqueça da Mimi, vovô.

Baratinha: Oh, abuso.

Bonitinha: A Mimi deveria está linda nessa roda de dança.

Vovô: Através dos séculos, e das vozes comovidas que a contaram, chegou até nós e agora é contada para vocês, crianças.

Bonitinha: E Mimi, vovô, entra que hora?

Vovô: E de uma linda gatinha batizada por Mimi.

Mimi: (entra miando).

Bonitinha: Ela é linda, vovô!

Baratinha: E pra que essa mancha branca no olho? Oh, abuso. Não gostei.

Julieta: E é uma gata de verdade.

Romeu: E que gata!

Julieta: Romeu, você me respeite! Você ta se enamorando por essa gata, ou eu estou enganada?

Baratinha: Ta, sim! Mulher olha a cara de pão doce do Romeu pro lado da Mimi.

Bonitinha: Vovô, que tal a Mimi tomar o lugar da chata da Julieta?

Julieta: Pra mim, chega! Essa foi à gota d’água.

Romeu: Julieta, não vá!.. E agora, o que vai ser de mim?

Baratinha: Deixa-a ir seu bobo e se solta, aproveita que ta solteiro. Eu estou aproveitando.

Menino: Só quero ver qual vai ser a hora que o meu super-herói vai entrar.

Vovô: E o super-herói entra trazendo a bela Julieta de volta a historia.

Menino: Viva!

Romeu: Um super o que?

Baratinha: E o que faz um super?

Bonitinha: E Mimi começa a falar!

Mimi: Ele é um gato!

Baratinha? É não louca isso é um super, não sei o que.

Bonitinha: Deve ser essa mancha no olho dela que deixou a Mimi biruta.

Menino: Isso é o amor.

Romeu: Protesto!

Menino: Negado!

Super: A Julieta está entregue! E eu, o super dos super cumpre o meu dever, salvando mais uma historia de amor.

Gata: E eu estou me preparando para iniciar uma nova historia de amor.

Super: Minha doce, Mimi.

Mãe: Que confusão é essa aqui, papai?!

Vovô: Minha filha...

Menino: A culpa é da Bonitinha!

Bonitinha: Minha?

Mãe: Tem um tal de Dom Ratão lá no portão procurando pela noiva dele.

Baratinha: Ai, meu Deus! Sou eu! Tchau, pessoal!

Mãe: Sim, e lá fora também tem um cão budog, furioso procurando uma gata de nome Mimi. E ele ta que é uma fera.

Mimi: E agora, quem me salvará?!

Super: Eu te salvarei minha doce, Mimi!

Mimi: Adeus, pessoal!

Mãe: E quanto a vocês dois, o pai de vocês já chegou e ta com dois pacotes lá na sala pra vocês.

Bonitinha: Será que é minha boneca, mamãe?

Mãe: Não sei. Corra lá pra ver, porque o seu irmão já foi.

Bonitinha: Espera por mim, Menino!

Mãe: E quanto ao senhor, papai, vamos que a janta já ta na mesa.

Vovô: Você chegou na hora certa. E quanto a eles dois?

Mãe: Eles sabem o que tem de fazer para terminar essa historia feliz.

Vovô: Vamos, então.

Romeu: Enfim, sós.

Julieta: O meu beijo, meu querido.

Romeu: Nesse lugar não seremos felizes. Aqui as historias se misturam.

Julieta: Então, vamos para Verona, que lá te cobrirei de beijinhos.

Romeu: por que não aqui?

Julieta: Olhe o publico nos olhando.

Romeu: Só unzinho.

Julieta; Ta, então. Mas só um selinho.

Romeu: Um selinho.


JUSCIO MARCELINO
MACAÍBA, 21 de setembro de 2008



















Mine texto para teatro




“CHAPEUZINHO VERMELHO E O LOBO MAL”
(uma livre adaptação)


Personagens:
Narrador
Lobo mal
Mãe de Chapeuzinho
Comadre da mãe
Chapeuzinho
Primavera (amiga de Chapeuzinho)
Caçador 1
Caçador 2
Caçador 3
Príncipe



Cena 1: Frente da casa de Chapeuzinho vermelho




Narrador: Em um bosque muito bonito, onde tudo era abençoado por Deus, morava uma linda menina conhecida por Chapeuzinho Vermelho. Ganhou esse apelido porque sempre que saia de casa, usava um capuz vermelho. Certo dia, quando Chapeuzinho brincava com uma amiguinha...
Lobo: (canta)
“Eu sou o lobo mal, lobo mal, lobo mal
E pego as criancinhas para fazer mingau
Hoje estou contente
Vai haver festança
Tenho um bom petisco
Para encher a minha “pança”
Narrador: Senhor lobo, quer bagunçar a história? Não ta vendo que essa ainda não é a sua cena e sim, da Chapeuzinho Vermelho!
Lobo: E eu não sei! Só vim me certificar se essa delícia de refeição vai mesmo pela floresta.
Narrador: Claro que vai. Não sabe que ela é muito desobediente. Que não faz o que a mãe dela manda.
Lobo: Isso é verdade. Eu adoro criancinhas desobedientes. Vêm todas pra a minha pança.
Narrador: Ta bom e chega de papo. Vá para a sua floresta que agora é a vez da Chapeuzinho. Anda!
Lobo: Fui!
Narrador: Agora sim, a história vai iniciar.
Mãe: Chapeuzinho!
Chapeuzinho: Já vou.
Mãe: Venha logo, Chapeuzinho!
Chapeuzinho: Já vou!
Mãe: Essa menina a cada dia ta mais desobediente. Venha logo, Chapeuzinho!
Comadre: Ela ainda ta brincando com a minha Primavera, comadre?
Mãe: Ta. Elas duas são muito unidas, não é comadre?
Comadre: Como nós somos. A Minha Primavera é tão sozinha. Acho muito bom quando venho aqui para que ela possa brincar um pouco com alguém.
Mãe: A minha menina também é muito só, comadre e acho muito bom quando a Primavera está brincando com ela. Venha aqui, Chapeuzinho! Não me faça de ouvido de mercador, sua mal ouvida. Venha aqui, menina!
Comadre: Ela ta tão mal ouvida, não é, comadre?
Mãe: É mimo que o pai bota demais e só sobra pra mim.
Comadre: Primavera!
Primavera: Sim, mamãe?
Comadre: Vamos embora. Pegue suas bonecas e vamos para casa.
Mãe: Tão cedo, comadre?
Chapeuzinho: É madrinha, ainda ta cedo. Deixa-me brincar mais um pouquinho com a Primavera.
Comadre: Chapeuzinho está muito desobediente e está merecendo um castigo. Ela só vai continuar brincando quando voltar a ser obediente com a mãe dela. Ela sabe muito bem que madrinha é a mesma coisa de mãe.
Primavera: Ainda não terminamos a brincadeira de cozinhado, e a de ninar as bonecas mamãe. Como é linda essa boneca de Chapeuzinho, mamãe.
Comadre: Você não escutou a sua mãe, minha afilhada. Passe pra dentro, lave as mãos e vá fazer o que a sua mãe vai dizer.
Chapeuzinho: Sim, senhora.
Mãe: Graças a Deus que você conseguiu comadre, porque eu já tava pra bater nessa menina.
Comadre: Nós já estamos de saída, comadre. Diga ao compadre que deixei um forte abraço. Vá qualquer dia desses lá em casa comer uma caça. O convite ta feito.
Mãe: Ta certo, minha amiga, e quando o seu compadre chegar eu darei o recado. Vá com Deus e cuidado com os lobos que existem por aí.
Comadre: Quem ta com Deus ta protegida comadre. Até logo.
Mãe: Não se esqueça de dar lembranças ao compadre!
Chapeuzinho: Já foram?
Mãe: Já, minha filha. Quando aparece alguém eu fico tão feliz, mamãe, a gente é tão só.
Mãe: E olha que você tem a mim e seu pai, mas imagine como deve se sentir a sua avó, não é mesmo?
Chapeuzinho: Deu-me saudades dela agora.
Mãe: Que tal você ir deixar uns docinhos pra ela?
Chapeuzinho: Ir sozinha? Agora?
Mãe: Sim, meu amor. Você vai pela estrada que é bem pertinho e não é perigoso. Vai dar tempo você ir e vir e esperar o seu pai chegar.
Chapeuzinho: Eu vou pela floresta que é mais perto.
Mãe: Nem pensar! Ouvir falar que lá mora um lobo muito mal.
Chapeuzinho: E quem tem medo de lobo mal? Eu sou forte e valente. Se ele vier me pegar, eu dou um grito e corro.

Mãe: Sei que você é a fortinha da mamãe, mas vá pela estrada que é mais seguro, ta certo, meu amorzinho?
Chapeuzinho: Certo, mamãe.
Mãe: Pegue esse cestinho com os docinhos e vá levar para a sua vovozinha. Vá com Deus e não sé demore.
Chapeuzinho: Já estou indo, mamãe. (canta)
Pela estrada a fora
Eu vou tão sozinha
Levar esses doces para a vovozinha
Ela mora longe e o caminho é deserto
E o lobo mal pode está por perto
Hoje à tardinha
O sol poente
Para a vovozinha levo um presente.
Sabe de uma coisa; vou pela floresta que é mais perto e de quebra vou comendo os docinhos que por sinal estão apetitosos e quando chegar lá digo que caiu no chão. É isso mesmo, vou entrar aqui nesse atalho da floresta.

Cena 2: Caçadores na casa de chapeuzinho

Caçador 1: Oh, de casa!
Mãe: Pois não, senhores?
Caçador 2: Estamos indo caçar na floresta e queremos um pouco d’água.
Caçador 3: A senhora pode nos arranjar?
Mãe: Pois não. Já tenho prontinho aqui. Pode levar.
Caçador 1: Muito agradecido estamos, nobre senhora.
Caçador 2: Quando voltarmos traremos uma caça para a senhora.
Caçador 3: Em forma de agradecimento.
Mãe: Os senhores fazem melhor se vigiarem a minha filhinha que foi levar uma cestinha de doces para a avozinha dela. Como ela é muito teimosa, acredito que ela tenha ido pela floresta, mas eu pedir muito que ela fosse pela estrada. Mas os senhores sabem como são essas crianças de hoje, muito teimosas.
Caçador 1: Ela foi pela floresta ou pela estrada, minha senhora?
Mãe: Espero que ela tenha ido pela estrada.
Caçador 2: Ainda bem.Porque na floresta tem um lobo muito mal.
Mãe: Ai, meu Deus do céu, proteja a minha filhinha!
Caçador 3: Não se preocupe minha senhora porque nós estamos indo agora caçar ele.
Caçador 1: Pois a senhora fique despreocupada. Muito obrigado pela água.
Caçador 2: Sua filhinha chegará aqui são e salva. Fique com Deus!
Caçador 3: Até a volta bondosa senhora.
Mãe: Vão com Deu, corajosos caçadores!

Cena 3: A floresta

Chapeuzinho: (canta alegremente)
Lobo: Bom dia linda menina!
Chapeuzinho: Bom dia, senhor.
Lobo: Não sabe quem eu sou?
Chapeuzinho: Claro que não, né moço. Se eu soubesse estaria lhe chamando pelo seu nome.
Lobo: Pra onde essa linda menina vai tão alegre? Nunca nessa floresta triste e sombria passou uma criança tão alegre assim.
Chapeuzinho: Pra que o senhor quer saber?
Lobo: É só curiosidade.
Chapeuzinho: Fofoqueiro. Até aqui na floresta tem curioso.
Lobo: E o que leva nessa cesta?
Chapeuzinho: Já vi que o senhor não vai parar de perguntar se eu não responder. Tudo bem. Estou indo para a casa de minha avó deixar essa cesta de docinhos para ela. Matei a sua curiosidade? Agora deixe- me ir, pois já estou muito atrasada. Adeus! (sai cantando).
Lobo: E eu que pensava que ia saborear só uma. Estou feito! Tenho pronto o almoço e o jantar. Vou pegar um atalho e chego à casa da vovó primeiro que ela. Almoço a vovó e janto a netinha (canta a música do lobo mal).

Cena da casa da vovó

Narrador: O lobo muito rápido correu até a casa da vovó de Chapeuzinho Vermelho. Muito rápido mesmo que até chegou muito suado. Enganou a vovó e engoliu-a inteirinha.
Vovó: Engoliu-me que nada. Só nessa sua cabecinha de narrador. Não ta vendo que nenhuma criança vai acreditar que um lobo engoliu uma pessoa inteirinha. É melhor o senhor não enganar a essa criançada. Vamos, fale a verdade.
Narrador: Mas vai ficar diferente.
Vovó: Tudo nessa história, desde o início já é diferente, seu moço. Estamos nos adaptando aos novos tempos pra ver se sobrevivemos. Vamos, estou esperando.
Narrador: Esperando o que?
Vovó: A verdade! Vamos, conte a verdade.
Narrador: Tudo bem. Continuando; enquanto o lobo escondeu a vovozinha para saboreá-la junto com a netinha, ele se disfarçava de vovozinha para enganar Chapeuzinho vermelho.
Vovó: Chapeuzinho é muito esperta e não vai me confundir com isso aí fantasiado da avó dela.
Narrador: Amordace a vovó, seu lobo! Eu não agüento mais ela se metendo e quebrando a magia da historia.
Lobo: Mais ela tem razão.
Vovó: Ta vendo.
Narrador: Como assim?
Lobo: Essas crianças não se iludem com essas historias fantasiosas onde um lobo engole uma pessoa inteirinha e quanto à pestinha que se veste de vermelho, eu a encontrei na floresta, e ela me provou que é muito esperta, e não vai engolir essa de vovó com cara de lobo.
Narrador: E agora, meu Deus, o que irei dizer?
Vovó: Sim, e agora?
Lobo: Vou seguir o seu conselho, seu narrador; amarrarei a vovó.
Vovó: não aperte muito, pois eu sou muito fraquinha.
Narrador: Muito bom. Assim ela não atrapalhará mais o rumo da história.
Lobo: Vovó amordaçada. E agora, em que eu irei me disfarçar?
Narrador: De mordomo!
Lobo: Quem já viu um mordomo numa casinha no meio da floresta. Só o senhor mesmo para ter uma idéia absurda dessa.
-Ao longe se escuta Chapeuzinho cantando.
Narrador: Ela está chegando, e agora?
Lobo: Você é o narrador da história, se vire.
Narrador: Tudo bem. A saltitante Chapeuzinho Vermelho quando chega na casa de sua avozinha, se depara com um médico!
Lobo: Um médico?
Narrador: Geriatra, ainda mais.
Chapeuzinho: Vovozinha!
Lobo: Entre minha netinha.
Chapeuzinho: Netinha? Ah.. Quer dizer que a danadinha da vovó arranjou um namorado e não disse nada lá em casa. E a mamãe tão preocupada com ela por está tão só no meio dessa floresta. Conheceram-se pela net?
Lobo: Não é isso, garotinha, é que eu sou médico e a sua avó...
Chapeuzinho: Não me diga! A vovó morreu e o senhor estava querendo preparar a família. Socorro! Socorro, meu Deus! Ajudem-me! A vovó morreu!
Lobo: Calma, mocinha, não é bem isso.
Chapeuzinho: Tenho que ir correndo pra casa para providenciar velório, carro de som para divulgar o enterro. Vai se um baque pra a minha mãe.
Lobo: Calma garotinha! Eu não sou médico coisa nenhuma.
Chapeuzinho: Céus! A história está ficando cheia de suspense.
Lobo: Também não sou namorado de sua avó.
Chapeuzinho: De cara da pra saber que vovó não ia ter um mau gosto desses. Um cara com essas orelhas enormes, uns olhos grandes que mais parece um farol e uma boca... Enorme.
Lobo: Que é pra te engoli, garotinha!
Chapeuzinho: Socorro!
Lobo: Pode gritar garotinha que ninguém vai te ouvir.
Chapeuzinho: Socorro, um dentista pra esse cara que ta com a boca que é só cárie e um hálito que é de matar.
Lobo: Pode gritar garotinha1 Fique com muito medo porque eu vou te engoli!
Chapeuzinho: Ta tudo bem.
Lobo: Tudo bem o que?
Chapeuzinho: Engula a minha mão que eu quero ver.
Lobo: Como assim?
Chapeuzinho: Eu aposto que no meu próximo grito, aparecerão três caçadores que me salvarão de você e ainda vão abrir a sua barriga para procurar a minha vovó.
Lobo: (rir) Você é engraçada, garotinha indefesa!
Chapeuzinho: Indefesa, é? Pois preste atenção; Ai.
Narrador: Com o grito da aflita Chapeuzinho...
Chapeuzinho: Aflita, eu?
Narrador: Atendendo ao pedido de socorro, entram os três valentes caçadores!
Lobo: Céus! Não é que ela tinha razão.
Chapeuzinho: Por favor, destemidos caçadores, abram a barriga do temível lobo e salvem a vovozinha.
Caçador 1: Agora mesmo, indefesa Chapeuzinho!
Lobo: Indefesa?
Caçador 2: Vamos salvar a vovó enquanto é tempo.
Caçador 3: Vamos abrir a barriga desse feroz lobo!
Caçador 3: Tem certeza que ele a engoliu?
Lobo: Calma pessoal, que a vovó ta amordaçada ali atrás. Não é necessário me abrir.
Vovó: Obrigado, meus filhinhos.
Mãe: Minha filhinha!
Chapeuzinho: O que a senhora ta fazendo aqui, mamãe?
Vovó: Deve ter sido o coração de mãe avisando perigo.
Caçador 1: Nós não encontramos a Chapeuzinho na estrada, mas escutamos gritos e viemos correndo pra cá.
Caçador 2: Para nossa sorte, encontramos o lobo feroz.
Caçador 3: Pronto para atacar.
Lobo: Por favor, seus caçadores, me prenda, porque eu não agüento mais essa menina.
Narrador: Os caçadores levaram o velho lobo preso e Chapeuzinho ficou feliz a cantar junto com a sua mãe e a sua avozinha.
“Quem tem medo do lobo mal, do lobo mal, do lobo mal (bis).


Juscio Marcelino
26 de maio de 2008









Quando escrevi "O Céu dos macaibenses", já havia escrito vários outros textos que não foram guardados e se perderam pelo caminho.
"O Céu dos macaibenses", é um texto leve, que trata de um mundo espiritual, com personagens reais mas, soltos, livres do que alguém acha, já falou ou escreveu sobre eles. Uma transgressão celestial.
A minha admiração é enorme por cada um dos personagens, mesmo só tendo conhecido o Prego, Zé Jipe, Isabel e Sabiá. Quando criança, sempre os encontrava de frente ao mercado, onde hoje é a Praça da Juventude. Lá, em frente ao mercado público existia o que chamávamos de "boinhos" - mines cigarreiras - que vendiam de um tudo e era o ponto de encontro das ilustres figuras populares da cidade. Isabel Cruz foi minha mentora teatral.
Os filhos ilustres, eu só os conheço na história escrita e, nas inúmeras conversas que tive com estudiosos e antigos populares. Mostro o lado simples, comum, o dito normal, o não convencional bibliográfico. Com certeza, estarei fomentando a pesquisa, a busca da identidade real daqueles que contribuiram com a história do nosso município. Provocar é o verbo adequado para o objetivo desse texto teatral, sem nenhuma fundamentação na doutrina espírita.
Os outros textos foram surgindo, dentro do processo criativo, do grande casamento que fiz com a escrita. O lápis dançando, a tinta saindo e o personagem surgindo. É puro prazer.

O autor






"O CÉU DOS MACAIBENSES"


Personagens:

* Anjo Gabriel;
* Major Andrade;
* Auta de Souza;
* Augusto Severo;
* Alfredo Mesquita;
* Sabiá;
* Orestes;
* Zé Jipe;
* Beleza.


Gabriel: Boa estada nesta peça teatral que relata fatos que não personalizaram os vultos históricos eternizados pelo tempo. Sou o anjo Gabriel, o síndico de um dos hotéis mais luxuosos da rede celestial, o hotel "O céu dos macaibenses", que está sob a direção de São Benedito, um dos santos mais ricos nesse imenso mundo de negócios que se chama Céu. Estamos em uma das suítes, relatando o outro lado, a outra possível face das grandes manifestações da inteligência. Como diria Ramalho Urtigão "Sem alegria, a humanidade não compreenderia a simpatia e o amor".
Andrade: Bravo, muito bom...
Gabriel: Obrigado Senhor, eu...
Andrade: Andrade, Major Andrade.
Gabriel: Desculpe-me Major, não percebi a vossa chegada. Eu só estava tentandoexplicar...
Andrade: Não precisa explicar nada pra mim. Cada morto com sua mania, eu tenho a minha, você tem a sua, e quem sou eu pra discutir com... mas, como é mesmo a sua graça?
Gabriel: Gabriel, síndico do céu, deste céu, em específico. Major é novo por aqui?
Andrade: Sim, ainda estou em fase de adaptação. Mas, antes de chegar aqui, eu passei por lugares que até vivo duvida que exista. Aqui neste céu, é muito tranqüilo, muita paz, lugarzinho pacato. Sinto-me em casa após uma braba eleição.
Gabriel: Gostou? Eu que mantenho tudo em ordem. O silêncio, essa paz, o ambiente, tudo depende de mim e posso melhorar ainda mais, posso até arranjar um lugarzinho na cobertura pra o senhor ficar mais pertinho de Deus. O que achas, hein?
Andrade: E porque ainda não estou lá?
Gabriel: Basta que o Major molhe a minha mão com lustrosas estrelas do cruzeiro do sul e tudo será resolvido no maior sigilo.
Andrade: Então, quer dizer que você é o tal que faz as marmeladas aqui no céu?
Gabriel: Alto lá! Sou um anjo de carreira e não me envolvo com esse tipo de coisa. O que estou propondo é um negócio, se não quiser, morre aqui o assunto.
Andrade: Você disse; o assunto morre aqui? Até aqui, Senhor Deus, nem o céu escapa de falcatruas, de ladrões, corruptos!
Gabriel: Isso é um insulto! Não confunda com qualquer coisa que os homens possam fazer para conseguir garantir uma gorda aposentadoria de forma errônea. Aqui, isso não! Céu é céu e terra é outra história. Céu é anjo, por exemplo, eu, e terra é o senhor e quem merecer. Percebe que são realidades diferentes, seu ignorante. Tento ajudar, mas não, vem um soldadinho raso me desacatando...
Andrade: Soldado raso é a mãe!
Gabriel: Passar mal!
Andrade: Eu sou Major por merecimento, seu anjo bobão, ladrão, safado! Eu tenho honra, não sou como uns e outros que só era venha nós. Se quiser, pode ir lá na terra agora, pode ir, pergunte pra qualquer pessoa se eu num fui o o herói dos pobres , que doei terras, que eu fiz o que muitos não fizeram e nem fazem hoje, acredito, a tão chamada reforma agrária.
Auta: Estás falando sozinho, Andrade?
Andrade: Com um tal de anjo Gabriel, um corrupto, safado. Mas não vai ficar assim, ele não me conhece. Não sabe do que sou capaz. Vou arrancar as pernas, os canhões, irei depená-lo.
Auta: Calma Andrade, você é calouro no céu.
Andrade: E o atrevimento dele, senhorita Auta de Souza, aquele safado de asa me chamando de soldado raso, como é que fica? Terei que calar, dando o goto seco? Essa não, Auta de Souza, basta me encontrar com ele que eu irei...
Augusto: Matar o anjo e mandar pra terra em forma de trovão, onde sairá estampado na primeira página dos jornais - "A alma mata o anjo", seria muito engraçado, Andrade.
Auta: E você, Augusto Severo, é muito...
Augusto: Criativo, bonito, feliz, não é mesmo, grande poeta de um livro só. Mas de quem ou de que vocês estavam falando mesmo, quando este jovem inventor entrou e foi forçado a contemplar um diálogo chula e degradante?
Andrade: Era de...
Auta: Escorpião.
Andrade: Auta?
Augusto: Bravo, chamuscada poeta! Diretamente de Nuvens Gerais, precisamente no céu dos macaibenses para o fantástico, o blá, blá, blá da poeta do desespero.
Andrade: Mas veja bem. Onde estou. Quem diria. Se contasse na terra, ninguém ia acreditar, iam me chamar de louco.
Alfredo: Mas tem quem diga o contrário, meu caro Augusto Severo, é só você que pensa assim. Estavas falando de que mesmo, venerada poetisa, para se criar todo esse furdunço?
Andrade: Até que em fim, apareceu Mesquita. Anda se escondendo ou de teretetê com aquele anjo safado? Você não perde tempo. Eu te conheço Mesquitão. Tu tá tramando, não sei o que,mas que tá, isso tá.
Augusto: Ele tá é morrendo de vontade de voltar para terra, Major Andrade. Eleição a vista.
Alfredo: E pensava você que eu já tinha nascido, hein? Engano seu. Vocês terão que me agüentar por muito tempo. Renderei muito sobre essas nuvens.
Augusto: O velho Alfredo, tranqüilo e manhoso... o que andas a fazer? Sei que coisa boa não deve ser. Um político estrategista na terra, aqui não será diferente. Aí tem, velho Alfredo Mesquita, e coisa boa que não é, não é isso Andrade?
Andrade: Cala-te boca. Por hoje, já falei demais.
Alfredo: Cada um fala o que quer. A nossa arma é a palavra e também é aprendizado. Através dela semeamos o bem e o mal, e espero que seja o primeiro, o favorito. Auta, por favor, leia essa matéria sobre Macaíba que encontrei nos arquivos e achei parecida com você.
Andrade: Tô besta. Mesquitão parece um doutor no palavriado.
Augusto: Estavas bisbilhotando os arquivos de São Gabriel, hein Alfredo? Se um dia ele te pega, não quero nem tá perto. Mas o que você realmente estava querendo lá, heim espertalhão? Quem sabe, eu possa te ajudar, te prestar uma assessoria.
Andrade: Não, essa é demais. Macaíba já viu tudo na política, aquilo o que ninguém pode imaginar, pois já aconteceu, mas essa do Augusto Severo propor assessoria, só um louco poderia acreditar numa conversa dessa, e logo a quem. Uma cobra criada igual ao Mesquitão.

Alfredo: Vê se fala alguma coisa sobre o meu povo, Auta, se tem algum político nos meus descendentes, realizando um trabalho honesto.
Augusto: Ele pensa que milagre existe. Você tá de gozação, não é Alfredo?
Alfredo: Mas hoje vocês me escolheram para Cristo. Mirem em outra direção.
Andrade: Você quer ser canonizado, diga logo Alfredo, mas dizer que político é honesto, tu tá variando. Quer que eu relacione algumas das tuas, quer?
Auta: Chega rapazes! Pois não, senhor Alfredo Mesquita, farei a leitura com o maior prazer "Jornal da Terra, Macaíba/RN, 13 de junho de 1982". Em versos, segue esta informação para aqueles que passaram do portão:
Para esclarecer os amigos
Que passaram do portão
Vou contar uma história
De grande apreciação
É de Macaíba que vou falar
Com amor no coração.
Em outubro de 1877
Em 27 do mesmo mês
A antiga vila Coité
Se tomou cidade de uma vez
Nas mãos de homens trabalhadores
Com um dono de terra bem cortês.
Expandiram-se neste lugar
Fazendo a vila crescer
Se alastrando em toda zona
Para todo povo vê
Que a vila de Fabrício Gomes Pedrosa
Uma cidade iria ser.
Daqui saiu Augusto Severo
Auta de Souza também saiu
Foram sendo propagados
Fora e dentro do Brasil
Dessa pequena cidade
Gente importante já se viu.
Macaíba dormitório
Cidade domingueira
Terra de 150 vultos históricos
Importantes como as estrelas
É d'água da raiz
Que irei beber a vida inteira.
Alfredo: Merece aplausos!
Andrade: Não aplaudo. Não falaram meu nome, a importância da minha família, da minha luta e conquistas, das terras que doei, de como ajudei essa cidade crescer. Que povinho nojento, descartável, sem memória, sem cultura. Povo mequetrefe, despresível, sem memória.
Alfredo: Deixa de ser empacado homem. Será que você não escutou a parte dos 150 vultos históricos?
Andrade: Sem nome, de que adianta. Não gostei e pronto. Se dizendo o nome, o povo não presta muita atenção, e imagine sem dizer. Quem é que vai saber quem eu fui. Esses jovens não devem saber nada da nossa história, da minha precisamente.
Augusto: Dessa eu gostei. O grande Augusto Severo. Quer dizer, que Macaíba não foi ingrata comigo. Será que construíram um hangar com a réplica do meu balão? Olha aí, Auta, se eles não falam dos museus em minha homenagem? Macaíba hoje deve ser conhecida pela cidade do balonismo, desbravadora dos ares, e eu hoje, orgulhoso, feliz, realizado.
Sabiá: Licencinha. Seu Mesquita. Tem uma senhora baixinha que entrou pela porta dos serviçais dizendo que só arredará o pé daqui quando falar com o senhor.
Augusto: E a segurança, não existe mais nesse hotel?
Andrade: Pergunta ao anjo corrupto. Será que você tá devendo algum pra ele, Alfredo? Porque se tiver, tá lascado.
Sabiá: Já fiz de tudo para ela ir embora, mas não tem acordo. O que irei fazer? Se aqui tivesse um mordomo ou um segurança, mas não, tudo sou eu. Será que um de vocês não poderiam me ajudar?
Andrade: Até aqui no céu, Alfredo?
Augusto: Político honesto. Só você, Alfredo Mesquita. Só você e os devotos de São Longuinho. Me desculpe a ofensa, São Longuinho.
Andrade: É bem os defuntos que te elegiam na terra. Agora é acerto de contas. Vai ver que foi o anjo que te entregou. Tá lascado. Essa eu vou apreciar de camarote.
Alfredo: Chega! Quem é, Sabiá?
Sabiá: Parece que ela quer pedir alguma coisa para o senhor.
Andrade: Eu sabia, não erro uma.
Augusto: Também, é da mesma escola do Mesquita.
Sabiá: Será que não perdem o hábito de viverem pedindo, sempre. Não olhem assim pra mim.Os senhores sabem muito bem que eu vivia em um abrigo para idosos e pedia porque precisava,mas tinha muita gente, que eu sabia muito bem, que pedia sem precisão, só de olho grande, na ganância.
Alfredo: Mas isso é política, não é mesmo, Sabiá?
Sabiá: Sei responder não. Só sei que se der a ela eu quero também, principalmente os seis meses que estão me devendo. E só quero que não me paguem, pra ver essa neguinha aqui rodando numa perna só.
Auta: E agora, Alfredo?
Sabiá: Vocês vivem me enganando. Vivem nesse prédio chique, mas mal têm dinheiro pra pagar a comida e os empregados, quer dizer, a besta aqui. Também ninguém lá em baixo não lembram mais de vocês, nem uma rezinha. Como é que pode ter crédito aqui em cima.
Auta: Mas você hoje parece que cuspiu na capa de São Jorge, Sabiá.
Sabiá: E aí, o que vão decidir? Se não resolverem esse problema, o dragão de São Jorge vai engoli os veacos desse andar.Tô de olho. Pra mim abrir uma CPI é bem ligeirinho.
Orestes: Da licencinha, seu Alfredo Mesquita? Desculpe Sabiá, mas num gosto de esperar na cozinha dos outros, principalmente numa chiqueza igual aquela. Tá aí seu Mesquita que num me deixa mentir. Eu tava cansa de chegar lá na casa dele, e ele tá ceiando na conzinha e me mandar entrar, eu nunca entrei, ficava na varanda até ele terminar, entrava uma cambada, mas eu não, por que a hora de comer é sagrada, é a hora mais preciosa do homem com Deus.
Augusto: O circo está armado.
Sabiá: Mulherzinha, eu não disse que esperasse na cozinha.
Alfredo: Você aqui, Orestes?
Orestes: Me desculpe, seu Aífredo Mesquita, eu entrar sem ser a minha vez, é que o mingau nevado está quase queimando, lá na cozinha e eu vim avisar.
Sabiá: Me deixa passar!
Orestes: Corre mulher! Posso já ficar aqui num cantinho esperando a minha vez, seu Alfredo Mesquita? Garanto que não vou atrapalhar a prosa de vocês. Quando o senhor achar que deve me atender.
Andrade: Deixe vê se eu entendi direito; você está aqui para pedir, não é mesmo?
Orestes: Eu vim pedir a seu Alfredo Mesquita um grande favor.
Alfredo: Já sei. Você na terra me pediu um burro com cangalha e tudo, pra poder vender água, mas não me diga que veío aqui para pedir o burro que carregou o menino Jesus lá na terra?
Orestes: O senhor continua o mesmo, seu Alfredo Mesquita, adivinhão como sempre. Eita cabra porrete.
Auta: Estou boquiaberta. Jamais pensei de presenciar tal cena.
Andrade: Sente para não cair porque o show só começou. Agora vem a melhor parte, o momento que o poder impera, radicaliza, provoca o diferencial.
Augusto: E salve a honestidade!
Alfredo: Sabiá!
Orestes: Deixe que eu vou chamar, seu Alfredo Mesquita. Num tem pressa. Deixe que eu vou chamar a bichinha. Só Deus paga esse favor.
Sabiá: Não precisa, já estou aqui, e a bichinha é a mãe. Tô de olho. Se derem a ela, eu também quero, pode ser o que for, quero nem saber.
Andrade: É um burro o que ela quer.
Sabiá: E aí, major, Charque nevada é uma nota. Quero nem saber, mas também quero.
Orestes: É seu Alfredo Mesquita que quer uma palavrinha com você, Sabiá.
Sabiá; Pensei que era gente. O que é?
Augusto: Quem te viu e quem te vê, hein, Alfredo.
Orestes: Mulé, é o doutor Alfredo Mesquita, respeite o home.
Augusto: Doutor?
Andrade: Esse é o poder imperando.
Auta: Pode-se tudo quando se tem poder.
Sabiá: Tá bom de vocês providenciarem uma ajudante pra mim. Sou tudo nesse museu. Lavo, passo, conzinho, dou recado e atendo a porta, arrumo e espano, lavo banheiro cagado, tudo. E esses troços não querem me pagar.Eu me revolto.
Auta: Santo Deus.
Sabiá: O que é, dona Auta?
Auta: Foi o Alfredo que chamou. Já me calei. Não está mais aqui quem falou.
Sabia: Eu sei. Estou perguntando, porque tá me encarando?
Alfredo: Sabiá! Mais respeito.
Sabiá: Vê se me dá um descanso, né, seu Alfredo. Essa minha perna manca tá doendo demais, e quem tá pedindo é essa senhora e eu só tô de olho. Num brinquem comigo, vocês não conhecem o poder da minha perneta.
Alfredo: Acompanhe esta mulher até a portaria ,Sabiá, carimbe esta ordem e entregue a ela. Preste atenção Orestes, vá diretamente ao escritório de São Pedro e entregue este bilhete na mão dele, entendeu?
Orestes: Sim,senhor. Que homem santo o senhor é, seu Alfredo. Que Jesus e todos os santos lhe pague. Esse homem é um santo, minha gente. Viva seu Mesquita!
Augusto: Só você, Alfredo.
Auta: Gente, estou besta.
Sabiá: Estamos mortos e esse favor o senhor fará se quiser, não vai adiantar para as eleições na terra.
Alfredo: Você é que pensa.
Orestes: Obrigado senhor, Deus lhe dê um bom lugar.
Augusto: Melhor do que esse, só o trono do Pai. Ou você está pensando... eu não acredito Alfredo, que você chegaria a tanto.
Sabiá: E aí, vocês vão fazer o que para me pagar, já decidiram? E a burrinha?
Orestes: Tem gente lá na porta, vi pela vidraça, dona Sabiá, e parece que a pessoa tá com pressa.
Sabiá: Isso é um inferno! O que irei fazer? Alguém me ajude! Levo a Orestes ou atendo a porta?
Orestes: Pode deixar, mulherzinha que eu acerto o caminho, vá cumprir a sua obrigação. Até outro dia, vocês. Fique com Deus, meu santinho.
Sabiá: E eu pensando que ela ia me ajudar.
Andrade: Gastou cartucho a toa.
Augusto: Poderia está calada.
Andrade: Momento de devoção e agradecimento. Pode despencar uma banda do céu que nada iria tirar a atenção da Orestes. O foco é o político.
Auta: Você quando queria o emprego era toda santinha, mas agora tá colocando as unhas de fora. Não faça isso, minha querida, nós gostamos muito de você e tudo será providenciado, ou você perdeu a fé em Deus?
Sabiá: Escute aqui, dona Autinha; estou dizendo que eu quero o meu atrasado e uma auxiliar pra me ajudar porque não sou burro de carga pra lavar, passar, cozinhar, arrumar e fazer o escambau a quatro. E quando me deram o emprego me prometeram o céu e as estrelas, e esse seu personagem da piedosa, bondosa e sofrida, comigo não. E aí?
Augusto: E você está aonde sabiá? Aqui é o cèu que você merece e se dê por satisfeita.
Sabiá: Não se meta, seu Augusto, assim vai sobrar pro senhor. Pois bem, se a senhora não providenciar as minhas reivindicações, eu faço greve, dona Autinha. Estou falando sério e eu conheço os meus direitos. Sou sindicalizada. Eu deveria era lascar vocês tudinho no pau, ai sim, num instante eu recebia. Gente, eu não estou pedindo favor. Eu quero o que é meu, o pagamento do meu trabalho e vocês não estão dando a devida atenção.
Augusto: Gostei de ver. No teu tempo, um empregado tinha o atrevimento de fazer o que a Sabiá está fazendo,Alfredo Mesquita?
Andrade: Eita empregadinha porreta! Essa é das minhas.
Sabiá: E aí dona Autinha?
Augusto: Autinha? Era o que faltava. Você agora apelou,Sabiá, pegou pesado.
Auta: Senhores, me ajudem, estou vendo a hora ser tragada por essa esquerdista.
Sabiá: Empregada que valoriza seus direitos e cumpre os seus deveres, é isso que a senhora queria dizer, não é isso, dona Auta?
Alfredo: Atenda a porta, Sabiá, e deixe de lengalenga. Depois que ela está fazendo psicosocialização celestial, ficou dessa maneira.
Sabiá: Tomei uma decisão, meninos; estou em greve até atenderem minhas reivindicações, caso contrário, coloco vocês no pau.
Auta: Mais que bichinha atrevida. Senhores, façam alguma coisa. Aqui sou minoria.
Augusto: Nós damos de tudo a essa mal agradecida e ela fica passando em rosto umas míseras moedas chuvosas que devemos a ela. Se orgulhe senhora, de viver ao lado de grandes homens que fizeram a história de Macaíba.Levante a cabeça e diga que é feliz por ser serviçal dos arquitetos da história, não é isso Major Andrade?
Andrade: Não tenho nada com isso, sou novo nesse hotel. Funcionário meu lá na terra, não tinha o topete de me afrontar.
Alfredo: Iam para a chibata?
Andrade: Eu pagava em dia, nunca atrasei.
Augusto: Agora é a sua vez de pagar, mestre Alfredo. Tire da cartola a solução. Não era você o mágico da política em Macaíba? Então resolva o problema.
Alfredo: Alto lá, caro inventor. Se existe uma pessoa que deve aqui é você, que exigiu empregados. O melhor.
Andrade: Isso tudinho não precisava ser pago. Se existe Auta, uma mulher, ela é pra fazer essas coisas mesmo.
Auta: O que?
Andrade: Você não faz nada mesmo. Vive zonzando pra lá e pra cá. Vá se ocupar em alguma coisa, escrever, lavar louça, qualquer coisa, mas não, fica pelos cantos se metendo em conversa de homem. Vá ajudar a Sabiá.
Sabiá: Boa idéia. Mas isso ainda não me paga.
Augusto: Concordo, caro Andrade.
Alfredo: Olha a descriminação. Era pra todos fazerem, mas como todos ainda querem desfrutar da mordomia que tinham na terra, se acomodam, se sujeitando a essa situação. Machismo na altura do campeonato, não.
Sabiá: Todos ricos são iguais, aparência e nada mais. Na terra eu não era ninguém, mas aqui eu tenho valor. Se brincar, eu recebo reza da terra mais do que vocês.
Alfredo: Os humilhados serão exaltados.
Augusto: Eu só quero saber qual foi o bicho que lhe mordeu Alfredo.
Alfredo: Só estou tentando ser cavalheiro, gentil, educado. Não é aqui o céu?
Andrade: Só o céu pra ouvir uma coisa dessa. É pra rir? Eu acho que você tá querendo tomar o trono do criador. Cuidado Mesquitão, o tombo pode ser grande, e daqui pra o infa é só um espirro.
Auta: Chega de blá, blá, blá! Sabiá, mande a pessoa entrar!
Sabiá: Se vire, dona Autinha, porque eu nesse momento estou indo pro meu quarto curtir a FM nebulosa. Se virem!
Beleza: Licença?
Alfredo: Beleza! Seja bem vinda.
Augusto: E viva o curral eleitoral.
Alfredo: Está chegando de Macaíba?
Beleza: Não, seu Alfredo, já faz algum tempo.
Alfredo: Macaíba, que saudade. Não sei do que sinto mais falta.
Augusto: Quer voltar pra terra, Alfredo?
Alfredo: Não, caro amigo, é só lembranças. Tenho certeza que essa Macaíba de hoje não me agradaria. Não, cada um no seu tempo, e o meu foi bem vivido, assim como o de cada um.
Auta: Os seus olhos não me são estranhos.
Augusto: Agora sim. Era só o que faltava, uma oftalmologista.
Andrade: Ela foi amazona, escritora, revolucionária para o seu tempo e ainda tem essa coisa que você falou, Augusto. Olha, eu tiro o chapéu pra essa menina, e ainda tinha a questão da cor que nunca foi impercílio pra ela. Ela vêio cedo pra cá, imagina se ela fica pra vovó na terra.
Beleza: Auta, querida, eu era muito pequena quando você saiu de Macaíba.
Auta: Não me diga que você era aquela loirinha que passava cheia de cachinhos indo para a escola da rua do porto?
Beleza: Isso mesmo.
Auta: Você usava fitas azuis no cabelo, combinando com a cor dos seus olhos.
Beleza: E envelheci.
Augusto: Apresente a sua amiga, eufórica poeta. Nos dê esse prazer.
Beleza: Eu sou a Isabel Cruz, mas todos me conheciam por Beleza. O avançar da idade, me deu o agradável título de madrinha Beleza.
Augusto: Que graciosidade e encanto de pessoa.
Andrade: Um cavalheiro de marca maior. Esse Augusto não nega que já foi político. Êta cabra medonho, não é Alfredo?
Alfredo: A mancha da nossa categoria.
Auta: Me diga o que tanto você fez na terra? Onde estás repousando? Qual é o seu hotel?...
Alfredo: Calma Auta, deixe Beleza respirar.
Beleza: Fiz muitas coisas, como passar por um convento, adotar uma criança e fazer teatro.
Auta: Incrível! Sinto falta dos recitais da casa do Biscoito, as cavalgadas...que bom que você viveu tudo o que tinha direito.
Beleza: Sim. Velhinha, numa cadeira de rodas, eu ainda dirigia peças de teatro sacro e hoje repouso no hotel Coité, reservado aos artistas de Macaíba, como o mestre Joca Leiros, por exemplo.
Auta: Vamos conversar no terraço, pra você me contar tudo, querida. Temos muito o que conversar.
Alfredo: Espere Auta. Em homenagem a chegada de Beleza, recite uma poesia.
Auta: Agora não, Alfredo, por favor, esse não é o momento.
Beleza: Eu gostaria muito, minha amiga. Eu era muito menina para ir aos recitais, frequentar a casa do biscoito e nunca tive o prazer de escultá-la.
Auta: Está bem.
Augusto: Lá vem choradeira. Eu não agüento mais. Só não sei o que ela vai chorar aqui no céu.
Auta: Essa poesia é de um autor ainda vivo, li no Jornal da Terra e o título é: "Desejos de um Sonhador".
Augusto: Que evolução.
Auta: Entristecido fica meu coração
Quando sua chuva de lágrimas
Enche minhas veias de poeta
Fico querendo que sua alma
Transborde em meu ser
Enchendo de amor e felicidade
Por mais vastas que sejam,
Nossas noites de amor
Embebidas pelo mais puro aroma
Desejo mais.
Que meu coração cresça
E os sentidos transbordem de desejo
Como dois pirilampos,
Sairíamos, feito par
Juntos
Olhando a lua e suas servas
Banhar-nos-íamos de suor
Junto às árvores
Amanheceríamos deitados na relva
Contemplando o passado.
Beleza: Lindo, Auta! Bravo!
Alfredo: Um pouco apimentada para o céu, não, senhorita?
Augusto: É o progresso celestial, Mesquita. Adeus censura e viva a liberdade de expressão.
Andrade: Até me despertou para coisas adormecidas.
Gabriel: Licença, senhores.
Andrade: Eu o mato!
Augusto: Calma, homem, ele é um anjo!
Andrade: E eu, Major Andrade, que essezinho chamou de soldado raso.
Augusto: Fale logo, Gabriel e vá embora. Você foi desacatar logo quem.
Gabriel: São Benedito pede para que vocês façam um pouco de silêncio, porque já recebeu duas reclamações de vizinhos do andar inferior.
Alfredo: Só podia ser esses militares. Na terra viviam me bajulando pra conseguirem subir de nível e agora ficam botando banca, querendo ser as pregas de Pelé, era só o que me faltava. Eles querem guerra?
Andrade: Se é guerra, tá aqui um major pronto pra batalha. Soldados!
Augusto: Menos, major, menos.
Gabriel: Eu só vim dar um aviso de São Benedito.
Andrade: E quem aquele zinho pensa que é? Ele tá nos ameaçando, é, seu anjo de terceira?
Beleza: Tende piedade, Senhor.
Auta: Sinta o nível, querida.
Gabriel: Esse que o senhor discrimina é o dono do hotel. Espero que não esqueçam desse detalhe.
Augusto: E é? Que grande novidade. Ora Gabriel, todos nós sabemos onde moramos e a quem pagamos.
Gabriel: Mas, ele, não sabia.
Andrade: Mesmo assim, não deixa de ser um atrevimento muito grande esse recado que ele mandou.
Gabriel: Eu sou um empregado cumprindo ordens do superior. Não dá pra ser esclusivamente anjo, é necessário uma segunda função e aqui estou, trabalhando nesse hotel. Por isso repito para os senhores que aqui sou empregado, e como empregado obedeço ordens.
Andrade: Você é muito do babão, seu cheleléu duma figa, não passa de um baba ovo, e o pior, corrupto. Eu só queria estar na terra pra mostrar a você com quantos paus se faz uma urna, ou um altar.
Mesquita: Eles são um anjo e um santo, Andrade, e muito próximos a Deus.
Auta: Não esqueça esse detalhe.
Andrade: Me solte, não irei me trocar com esse...
Alfredo: Andrade!
Augusto: Já terminou, Gabriel?
Gabriel: Não, senhor. O dono do hotel mandou saber se vocês aceitam chá de nuvem do campo com rosquinhas de trovão requentadas ao relâmpago?
Auta: Que chique! É a primeira vez que recebemos atendimento vip. Já era tempo. E o melhor é que estamos recebendo a Isabel Cruz.
Beleza: Deve ser uma delícia. Estou adorando o atendimento desse hotel.
Augusto: Não pense em ficar.
Alfredo: Aceitamos, sim.
Andrade: Esse santo quer reza. Olhe o que estou dizendo. Vem aumento de reza no aluguel por aí. Depois não digam que eu não avisei, e olhem que eu não erro uma.
Augusto: Sei não. Acho que ele quer aprontar alguma coisa com esse espírito fraternal. Acho que o major tem razão, concorda Alfredo?
Auta: Pare de blasfemar, Augusto. Será que você não percebe que ele está oferecendo nas melhores das intenções. São Benedito é um sábio, espírito sagrado. Ele não é de brincadeira.
Augusto: Será que nem falar eu posso mais, dona Auta? E a liberdade de expressão, onde fica.
Auta: Não admito que falem mal de São Benedito ou qualquer santo que seja.
Beleza: Calma querida. Sei que és muito religiosa e não é de suportar tamanho insulto.
Andrade: Isso mesmo, Auta, defenda a cor, e vejo que sua amiga não lhe conhece de verdade.
Auta: Até tu Andrade? Admiro você, Augusto Severo, que sempre diz crer, que tem fé, fica falando besteiras, falando mal, ironizando, fazendo intrigas, jogando uns contra os outros, infernizando. Qual o seu objetivo nessa história, criatura?
Augusto: Eu? Meu deus, o senhor tá vendo que é ela que está me provocando. Será que tenho de descer de nível? E olha deus, que ela tá comparando o seu céu com a casa do tinhoso. Eu sou da paz, eu sou da luz minha querida.
Auta: Não envolva o nome de Deus em vão, Augusto.
Andrade: Estou enganado, ou vocês dois se amam.
Augusto: Por favor, Auta, procure o seu quilombo e me deixe em paz.
Beleza: Estou decepcionada. Nunca pensei que um cavalheiro pudesse tratar uma senhorita ilustre como a poeta Auta dessa maneira. Será que a cor da pele é mais importante que as qualidades dela? Pois fique sabendo senhor Augusto Severo, que essa escritora nunca foi descriminada.
Andrade: Em Macaíba tem um quilombola. Vêio de lá?
Beleza: Sem palavras.
Augusto: E vai ficar muito mais decepcionada se não desaparecer com a sua amiga, porque eu, irei ficar aqui. Passei uma curta vida na terra, sendo cavalheiro, me envolvi com política, coisa que me arrependo até hoje. Esse período todo engolindo desaforos, ganância, prepotência, arrogância, calando muitas vezes em bem da harmonia social, mas hoje não, chega!
Andrade: Pra que tudo isso, Augusto? Será que existe uma câmera escondida e você, tá gravando para o horário político e não avisou a gente?
Augusto: Mas será que você não viu e ouviu, as provações? Mesmo não tendo êxito com o Pax, mas dei minha grande contribuição para a humanidade. Até hoje recebo telegrama agradecendo o meu estudo, a minha pesquisa. E tem mais, eu fui o único, cremado nos céus de Paris.
Alfredo: E é disso que você tem orgulho e se sente o papa do ar? Coitado.
Andrade: Dessa maneira você vai se tornar o protagonista e acho melhor você ir parando, porquê você não está só nesse céu.
Auta: Mas é o que ele sempre quis, tanto na terra como aqui no céu e me dêem licença que irei para o terraço conversar com minha amiga...mas antes eu digo; na terra tive uma experiência dolorosa, sofrida, mas nunca desanimei. As pessoas hoje, na terra, só realmente sabem o que eu escrevi e o que os meus amigos amados escreveram e continuam escrevendo. E eu vos digo senhores, que vivi cada momento. Me apaixonei, cantei, cavalguei, recitei e a minha cor nunca fou impecílio. A doença, o mal do século, nos tombou, mas com dignidade, unidos pela fé e agradecidos a Deus. É a Deus que devo satisfações. Passem bem.
Beleza: Licença, senhores
Alfredo: Fiquem à vontade.
Andrade: Mas, me diga, Alfredo, essa amiga de Auta teve essa importância toda na história de Macaíba pra andar fazendo tur no céu? Quem realmente é essa mulher para está entre nós?
Alfredo: Com luva de pelica, não foi Augusto? Fantástica.
Andrade: Eu fiz uma pergunta, Alfredão, me responda.
Sabiá: Seu Andrade...
Andrade: Major! Major Andrade.
Augusto: As vezes fico me questionando do porquê, eu ter vindo parar aqui. Se morri em Paris, falo fluentemente francês, os meus restos mortais, não estão em Macaíba, e o que diabo eu estou fazendo aqui nesse cèu? Tem algo errado no ar.
Andrade: O ar é traiçoeiro, assim como determinados políticos.
Alfredo: Quem bebeu a água da raiz, até morto não escapa daquela cidade.
Augusto: Que carma.
Sabiá: Só pela sua ignorância, seu Andrade, não digo mais, que tem um homem querendo ver o senhor.
Alfredo: E falando de mim, hein, Andrade?!
Augusto: Era o sujo falando do mal lavado. Estou bem acompanhado nesse céu. Até parece que chutei a cruz.
Andrade: E quem é, Sabiá, que está me procurando?
Alfredo: Um leitor ou um prestanista. Das duas, uma.
Augusto: Será que não é um coronel do apartamento dos militares procurando um major desertor.
Alfredo: Diga logo, Sabiá, quem é?
Sabiá: E já pagaram os meus atrasados pra mim dizer que é um tal de Zé Jipe?
Alfredo: Zé Jipe, aqui?
Augusto: Se o Andrade é major, porque ele mora conosco e não com os militares? E esse Zé Jipe, quem é?
Andrade: É o meu sapateiro. Mande ele entrar, Sabiá.
Zé Jipe: Já tô entrando, Major Andrade.
Sabiá: Aqui agora tá igual à casa da mãe Joana, todo mundo manda.
Zé Jipe: Benza Deus, Major, agora aqui é um luxo só. Onde o senhor tava era um pardieiro, mas aqui sim, é lugar de gente descente.
Andrade: A de sempre, Zé. Manda ver.
Augusto: Que mordomia, Andrade. Esse é o céu que você pediu a Deus, não é?
Andrade: Eu e o Mesquita. Lutamos muito na terra pra merecê-lo.
Zé Jipe: Senhor Mesquita, aqui?
Alfredo: E onde você queria que eu estivesse, Zé Jipe? Agora eu arranjei pra hoje.
Ø (Voz de homem cantando samba antigo)
Andrade: Por que você veio hoje, Zé?
Zé Jipe: Tudo indica que amanhã irei a terra e pra não deixar o senhor esperando, vim logo hoje.
Alfredo: Tá uma bagunça esse céu. Não vale mais o que se paga.
Zé jipe: Com o senhor aqui, tá mesmo. E ainda chamam aqui de céu. Não quero nem imaginar o infa como será.
Augusto: Bate pênalti o engraxate e o time do político... só Deus.
Alfredo: Não estou falando de você, seu metido, estou falando da música de carnaval. Antes a música era suave, serena. Hoje parece...quem será que está cantando lá fora?
Zé Jipe: É um cabra bom, carnavalesco, um amigão, tudo pra ele se transforma em samba. É o velho Prego, que tá indo comigo pra terra.
Alfredo: E como o Prego veio parar aqui hein, Zé?
Zé Jipe: Por que o senhor não se levanta e pergunta a ele?
Augusto: Estás perdendo o cartaz, Mesquita? Gol do engraxate.
Alfredo: Isso na terra só faltava beijar os meus pés.
Zé Jipe: Quando não se é esclarecido se faz dessas coisas. E outra, o meu serviço era engraxar sapatos, o senhor queria o quê?
Augusto: Três a zero para o engraxate e a torcida pede bis.
Alfredo: Estou besta com você, Zé Jipe.
Zé Jipe: Tudo indica que não volte mais, major Andrade.
Andrade: Irei sentir a sua falta, Zé.
Alfredo: "As pessoas na vida, não vêem seus defeitos, só suas qualidades".
Augusto: Estou estranhando você, Alfredo, andas culto demais. O que é que está acontecendo? Estudo não era o seu forte.
Alfredo: "Cada ser só olha suas qualidades, estreliza-se, deixando de notar que não é só ele que está nesse imenso céu".
Augusto: Qual é o livro que você tá decorando essas frases, Alfredo?
Alfredo: Admiro você, achar que sou um charlatão. Você chega a me agredir com esse questionamento.
Andrade: Achar, é Alfredo?
Augusto: Com essa eu vou tomar um chá, mas prometendo que irei descobrir a mágica.
Alfredo: Vá e não volte mais, seu incrédulo.
Zé Jipe: Major Andrade, a neblinada está faltando posso usar a serenada?
Alfredo: Por que você trata de maneira diferenciada eu e o Andrade, Zé Jipe?
Zé Jipe: Por que ele me trata como ser espiritual, me respeita, mas quanto ao senhor...
Alfredo: Espere, seu Zé, e quando foi que lhe tratei mal?
Augusto: Estou notando que o grande filósofo Alfredo Mesquita, está vacilando no seu palavreado. Estou de volta caro Alfredo, preferi ficar, o chá fica para outra hora.
Andrade: Me diz uma coisa, Zé, o que realmente o Prego fez pra morar no nosso céu.
Augusto: Ele enricou com samba, na terra? Se foi, já vi que Macaíba tá como o diabo gosta.
Andrade: Ou deve ter subornado o Gabriel, que é o mais fácil.
Zé Jipe: Subornar com o que, major? Gente como eu e ele, entramos no céu dos macaibenses só pra fazer uns bicos. Nós viemos de terceira, não foi como vocês, em caixões bonitos, com toda mordomia que uma viagem de primeira classe garante. E vocês depois que viajam ficam recebendo homenagens. Até eu sair de lá, o mais homenageado, era o Augusto Severo.
Augusto: Por exemplo?
Zé Jipe: Tem rua, escola, praça, cidade, corrida tradicional com o nome dele. De todos, ele é o mais homenageado.
Augusto: E o que mais?
Zé Jipe: Diziam que ele era muito elegante, cabeleira cheia, bigodão, muito educado, e era inventor muito inteligente. Tem um dia no ano que os alunos vão cantar um hino em sua homenagem, na praça que tem o nome dele. Colocam flores e fazem discurso. Todo mundo no centro da cidade para para homenageá-lo.
Andrade: Estão falando de uma outra pessoa.
Augusto: Bravo! Magnífico! Sua audição está em perfeito estado para receber esta noticia, senhor Alfredo Mesquita?... Se calou? Claro, ficou sem palavras.
Alfredo: “O silencio só é irritante para quem não aprendeu a pensar, irritar-se com injurias é reconhecer que elas têm algum fundamento: desprezá-los é condená-los a serem esquecidos”. Licença.
Augusto: Vá, Alfredo Mesquita, pode ir e só espero que você encontre uma boa nuvem de chuva! Quando voltar vai ter uma surpresa!
Andrade: Calma Augusto.
Augusto: Eu descobri, Andrade! "Uma pedra atirada na multidão, tanto pode atingir o justo como o pecador", eu descobri!...
Andrade: A brincadeira que ele está fazendo com você perdeu a graça.
Augusto: É muito safado, esse Alfredo. Ele não tinha o que fazer, Andrade, combinou com o Gabriel...
Andrade: Que é outro safado.
Augusto: Para ficar recebendo frases feitas através de um mini-transmissor no ouvido.
Andrade: “O homem inteligente,exercitando, questiona sempre. O homem que não questiona, é um homem morto.”
Augusto: Até tu, Andrade?
Andrade: E ainda me chamam de louco.
Zé Jipe: Major, e esse louco aí, quem é?
Augusto: Ele não sabe quem sou? E ainda me chama de louco, eu, o grande inventor do dirigível, o PAX! Este homem que diz ser macaibense, não me conhece?
Zé Jipe: E eu tinha que saber quem era o senhor? Tás vendo major Andrade o que eu encontrei.
Augusto: Claro! Posso imaginar, vindo o senhor da terra vangloriando Augusto Severo, mas sem o conhecer. Imagine a geração que hoje cresce naquela cidade. Tenho pena do senhor... e de mim também
Andrade: Ele é o Augusto Severo, o tal do balão, Paris, fogo. Juntou?
Zé Jipe: Então, o senhor é o seu Augusto Severo? Meu Deus... me desculpe... e eu que admirava tanto esse homem.
Augusto: Admirava?
Zé Jipe: Eu sentava em frente da sua antiga casa, para trabalhar...
Andrade: Você está falando demais Zé. Falando pelos cotovelos.
Augusto: Espere, Andrade, deixe ele falar.
Andrade: Major Andrade.
Augusto: O senhor disse que ficava sentado na frente da minha antiga casa?
Zé Jipe: Que hoje, nem casa é mais.
Augusto: Meu senhor, eu deixei filhos, família, conterrâneos para tomarem conta dos meus bens. Diga-me, em qual janela o senhor ficava para trabalhar?
Zé Jipe: Que janela?
Augusto: Que janela, o senhor me pergunta? Céus! O caro engraxate era sego na terra? Será que desenvolvias o seu ofício sem ver o que estavas fazendo? Uma casa tem porta e janela e assim como inúmeras casas, e a que eu morava tinha mais de uma janela. Pois bem. Refazendo a pergunta...
Zé Jipe: Nâo se dê ao trabalho por que eu já entendi. Agora Lá tá tudo diferente, tem até porta de vidro.
Augusto: Áh! Você que dizer que lá agora é um museu onde guarda a minha história. Não é isso?
Zé Jipe: Não senhor. Eu num tô dizendo isso,não. Lá tem porta de vidro porquê lá era um comércio e até a hora que eu vinha embora, iam transformar em um banco, o primeiro banco da cidade. É o progresso chegando em Macaíba.
Augusto: Não pode ser, eu protesto!
Andrade: Você protesta o que Augusto? Estás morto homem de Deus.
Augusto: A minha memória, o que fizeram com o meu trabalho, com a minha história? Que gratidão eles tiveram para comigo, Andrade? De que vale, estátuas, fogos de artifícios, oradores com seus belos discursos, se o lugar onde morei, onde estavam as minhas coisas, eles destruíram! Que patriotas!
Andrade: De que vale se lamentar, esses gritos sem necessidade, se ninguém além de nós, pode lhe ouvir, homem de Deus. O povo da cidade tem tanta culpa quanto a sua familia que vendeu sem olhar para trás.
Zé Jipe: O major tem razão, senhor Augusto.
Andrade: Se com você, o homem do balão fizeram isso, imagine comigo. Não quero nem imaginar. Era lindo o meu solar. Capela ao lado, cercado por um coqueiral de dar inveja.
Augusto: Não suporto saber que tudo o que eu tinha de mais puro, a minha vida, dediquei á aquela cidade, e eles me renegaram. Eu tenho certeza que fiz para eles o que devia...
Alfredo: E eles o que tinham direito.Acalme-se Augusto Severo, precursor da aviação. Tenho certeza que em algum lugar você é reverenciado. Se não for em Macaíba, mas o Brasil é imenso, e melhor ainda,quem sabe París, quem sabe.
Zé Jipe: Eu queria saber...
Andrade: Calado. É melhor, quando se trata do céu dos macaibenses, Zé Jipe. Você já falou demais.
Augusto: E você, Alfredo Mesquita, cruel como sempre, nem aqui no céu você muda.Irônico, sarcástico. Deleitando o prazer na dor dos outros, com maestria. Que os seus não sejam herdeiros .
Alfredo: "Os humanos têm o coração como o estômago".
Andrade: E "A morte é o silencio da vida".
Augusto: Até você, Andrade?
Andrade: Posso vender pra você, se quiser.
Augusto: De você e do Alfredo, espero qualquer coisa. Eu só queria saber qual de vocês dois apagou a minha história em Macaíba. Essa cidade era para ter o meu nome, vestir a minha história, cantar a minha luta, narrar a minha vitória. Decolei, flutuei, subi. O mundo sabe o meu feito, a história do pax e os meus, os herdeiros da glória, do passado, renegam a sua herança. Céus, será que educar, hoje, lá na terra é esquecer?
Alfredo: Egocêntrismo, meu caro?
Augusto: Não, Alfredo, não sou egocêntrico. Só gostaria que a minha pesquisa tivesse servido de exemplo para a juventude. Céus, o que é dos jovens de Macaíba, hoje?
Alfredo: Em 41 eu era prefeito e inaugurei um obelisco no centro da cidade com sua cara.
Andrade: De formato futurista. Lembra um foguete. Num sei pra que tudo aquilo.
Augusto: Ora, Alfredo, não me chame de conformista.
Andrade: Uma marmota.
Alfredo: Mas você é muito mal agradecido. Queria eu ter poder só pra mostrar a besteira que vocês inventores fizeram criando o avião. Essa cambada.
Andrade: E vence, Alfredo Mesquita, no segundo tempo com uma jogada curta e rasteira.
Zé Jipe: Por falar em rasteira... O major já sabe do escândalo do tesouro da associação dos santos?...dizem que foi o maior roubo da história sagrada, era oração e pedidos para tudo o que era lado, prejuízo incalculável. Vão abrir uma CPI.
Alfredo: Até aqui no céu?
Augusto: E por que está espantado, Alfredo? Tá com medo? O que você andou fazendo de tão grave na terra, ou aqui no céu, que você ficou tão assustado?
Zé Jipe: Terminei, Major Andrade.
Andrade: Muito bem, Zé. Pegue o dinheiro com o Gabriel e vá com Deus.
Zé Jipe: Aqui está, Major Andrade, todas as moedas que o senhor me pagou.
Andrade: O que significa isso, Zé Jipe?
Augusto: Ele tá devolvendo dinheiro? Tem algo de muito errado acontecendo.
Zé Jipe: O céu que eu moro não precisa se pagar, mas esse céu que o senhor mora, sim, e o major precisa muito mais do que eu. Até outro dia, se esse dia existir.
Andrade: Vocês ouviram?
Alfredo: Se nós estivéssemos em um palco representando e a história terminasse agora, seria esse cabrinha, que saiu pela porta principal, o grande herói.
Andrade: Fui dar muita confiança, olha no que deu. E agora?
Sabiá: Tô de olho! Tô vendo dinheiro nevado ou é miragem?
Augusto: Como uma têia de aranha, as palavras se tecem, formando novas orações, rumos complexos, e como uma aranha, decodificarei fio a fio, nessa complexa oração.
Sabiá: Num entendi nada que o senhor falou, seu Augusto, mas o que entendi e vi foi o dinheiro na mão do seu Andrade.
Andrade: Deixe de ser oiuda, Sabiá, e vá procurar o que fazer.
Alfredo: Vamos mudar de assunto que é o melhor que fazemos.
Sabiá: Mudar de assunto é? Vocês são tudo farinha do mesmo saco, comem na mesma panela, mas pra cima de Sabiá três côcos, não. Nós vai falar de dinheiro, sim senhor, é o meu dinheiro que desaparece sem eu pegar. Vocês podem enganar a qualquer uma, até a princesa Isabel, que assinou sem querer. Ela me disse tudo na loja do prédio de nuveniência, mas essa magrela, não. E aí, vamos falar ou não?
Augusto: Isso mesmo, Sabiá, vamos falar de todas as falcatruas e maracutaias que eles fizeram na terra.
Sabiá: Me conta tudo seu Gustinho.
Alfredo: Vamos mudar de assunto, senhor inventor queimado.Chega de intervenções na minha vida ou na vida de quem quer que seja que esteja nesse recinto! Pra conzinha, Sabiá, agora!.. Estamos aqui nessa fase para uma auto avaliação, uma pré purificação,lavar a nossa alma, mas vejam o que estamos fazendo, as nossas ações, o pior da palavra, ação, pensamento. O que estamos fazendo sõ piora a nossa situação. Onde queremos chegar?
Alfredo: É uma releitura do ato de contrição,Alfredo?
Andrade: Vai começar a baixaria.
Gabriel: Senhores!
Andrade: Não falei. Ô boca bendita.
Alfredo: se for o chá,não aceitamos! Um bando de marmanjos tomando chá, Só aqui nesse céu, mesmo.
Andrade: Suborno, também não!
Augusto: Olha o rabo preso, senhores. Respeito é bom.
Anjo: O encarregado do embarque e desembarque no céu mandou avisar que escolheu dois de vocês para fazer uma visitinha a terra.
Andrade: Seja bem aventurado! Quando partiremos?
Gabriel: Sinto desanimá-lo, Major Andrade, não é dessa vez.
Andrade: Por que não? Você tá brincando comigo.Já mandei mais de cinco requerimentos. Será que erraram o endereço? Quero uma revisão de endereço.
Alfredo: Isso é casca grossa, Andrade. Depois que ele diz não, é não e ponto final. E logo você que afrontou ele. Parece que não aprendeu na terra qual a hora de recuar, calar, dar o goto seco, fica na espreita para uma nova investida. Relaxe e aproveite essa mordomia, meu caro.
Andrade: Mas já faz muito temp que mandei o pedido.
Gabriel: Os dois já foram escolhidos e nada depende de mim, senhor.
Augusto: Quem afinal, irá dessa vez?
Gabriel: Auta de Souza...
Augusto: Já vai tarde. Não era nem pra ela se hospedar aqui. Eles deveriam ter hospedado ela com escritores, e não comosco.
Alfredo: O que é isso, Augusto?
Augusto: Alfredo, você e Andrade são novos por aqui e não sabem o que eu, Alberto Maranhão e o Tavares de Lira sofremos nas mãos dela. Precisa-se conviver com a pessoa pra ver como ela realmente é.
Andrade: Ela nem está aqui, Gabriel, deixe que eu vá!
Augusto: Arrumadinho não, Major.
Gabriel: O senhor Augusto está insinuando o que?
Augusto: Você sabe muito bem o que eu quis dizer. Não se faça de desentendido, Gabriel.
Gabriel: Você tem medo de altura, Augusto?
Augusto: Eu? Você está é louco. Não sabe que o ar é a minha casa e a altura foi o meu objetivo. Voar, subir, liberdade.
Gabriel: Então se segure para não cair.
Alfredo: Isso é uma ameaça, Gabriel?
Gabriel: Quem sou eu para ameaçar alguém? Só sirvo ao Pai todo poderoso, o criador do céu e ele nesse momento pode estar traçando nossos destinos, mudando situações, tornando qualquer um em protagonista ou figurante.
Andrade: E esse louco não está vendo que eu não quero ficar mais aqui? Que eu quero voltar, ver o meu povo, as minhas terras, o meu solar, ver tudo.
Gabriel: Andrade, você na terra não existe. História,memória,nada.
Augusto: Gabriel! !
Alfredo: Deixa, Augusto. Já era hora.
Gabriel: Hoje ninguém mais sabe quem foi você. Até uma escola que tinha você como patrono, demoliram e tchau. Bem aventurados os que nascem em Macaíba,por que nela, da sua história só ficou a. . .
Alfredo: Chega Gabriel!
Andrade: Estou só... a casa caiu., quem sou eu?
Gabriel: Você agora está com os seus, nesse belo apart-hotel e nessa mordomia. A casa caiu porque a escola política que vocês criaram na terra implodiu com sua própria história e você é aqui o que realmente você foi lá na terra, assim como todos os outros que vem para esse céu. Você vai embarcar, Augusto Severo.
Augusto: Não pode ser. Protesto!
Andrade: Me leve... ou não.
Augusto: Não vou a terra e pronto. Será que esse palhaço que nos colocou nessa situação não sabe o que é democracia, liberdade, o direito de ir e vir? Em que século esse deus escreveu essa história, Gabriel? Tá decidido. Não vou e pronto, ninguém irá me obrigar. Só porque ele tá com a caneta na mão se sente no direito de traçar o nosso destino, decidir, escrever as entre linhas, nos jogar fora do trem. Isso tá errado e irei mobilizar as classes celestiais para revisarem a constituição desse céu. É isso mesmo. Se preciso for, moverei céus e nuvens, mas vou buscar o direito de escolha, o direito de ficar aqui.
Andrade: Eita cabrinha porreta. É isso aí, Augusto Severo, brigue para ficar que eu brigo para ir.
Gabriel: Não complique, Augusto.
Augusto: Não complique? É o que você tem pra me dizer? Você não percebe que sou um revoltado, que não quero mais ir a terra? Chega, tá decidido!..ir a terra, especificamente a Macaíba, ninguém merece. Vou ficar tão revoltado com o que fizeram com a história de Macaíba, que vocês vão se arrepender por ter me enviado. Escreva o que estou dizendo.
Alfredo: É isso mesmo, Augusto Severo Mas você sabe que depois que ele escreve, acabou-se, mesmo se arrependendo. Então, homem se você sabe que é assim, aceita calado e sai logo da história celestial. Você não foi e nem será o protagonista e ainda é um personagem que nasce antes do final, percebe?
Augusto: Tenho que me conformar? Eu não admito. Farei qualquer coisa pra conseguir os meus objetivos. Você só diz isso Alfredo, porque tudo o que se constroi hoje, em Macaíba, tem o seu nome, até os meninos que nascem. O que realmente você fez, pra essa cidade te glorificar tanto. Manda ele, anjo Gabriel, tenho certeza que na sua chegada as fanfarras das forças armadas estarão todas perfiladas e tocando alegrimente. As escolas vão parar e todos alunos com bandeirinhas nas mãos, perfilados, cantando o hino em sua homenagem, Alfredo, e todos os 13 vereadores com um projeto de lei aprovado para mudar o nome da cidade, de Macaíba para Alfredão.

Andrade: Me leva no lugar dele,que deus nem vai perceber.
Augusto: Por favor, Anjo Gabriel, se não levar o Alfredo, leva o Andrade no meu lugar...
Andrade: Pronto, tudo resolvido em casa mesmo. Até um outro encontro Augusto e muito obrigado.
Gabriel: Uma besteira, aqui e outra ali, eu ainda resolvo, mas uma mudança como essa seria uma grave desobediência. Impossível.
Augusto: Anjo Gabriel, por tudo o que é mais sagrado, eu te imploro, não me deixe ir.
Andrade: Engraçado Augusto, enquanto eu quero ir, você não quer, porquê?
Augusto: Eu iria para qualquer parte da terra com maior prazer, mas o masoquista que escreveu esta história está me devolvendo a Macaíba, terra boa, mas de filhos ingratos, onde a política partidária corrói os homens, destrói sua história cultural e imortaliza, homens sem méritos, e vocês sabem, muito bem, que estou coberto de razão... por favor, anjo Gabriel!
Gabriel: Augusto, "A árvore cortada reverdece; a lua minguante dá lugar à lua nova..."
Augusto: Eu já vi que transmissor é o que não falta e o seu, Gabriel, é coisa de 1° mundo.
Gabriel: O meu?
Augusto: Não se faça de desentendido. Acredito que seja bem melhor eu ir embora desse céu. Olhando agora,no geral, eu me pergunto: que céu é esse?
Alfredo: Muito bem, Augusto, encare a vida com naturalidade. Todo homem questionador, é um homem ativamente inteligente, e você é esse diferencial.
Augusto: Vocês realmente compraram os transmissores. Andrade e Alfredo, até breve, amigos.
Andrade: E nós, anjo? Vamos ficar vendo aviões? Sabiá em greve. Isso aqui vai ficar uma pindaiba.
Gabriel: Vocês terão que esperar. Quem virá substituir o Augusto, será o Almir Freire. Passem bem.
Andrade: Com quem iremos dividir o teto?
Augusto: Calma, Andrade.
Andrade: Calma o que, Alfredo. Eu não vou ficar com um Freire no mesmo espaço. Eu quero sair daqui! Gabriel!!
Sabiá: Alguém me chamou? É engano, ou eu ouvir que querem me pagar?
Andrade: Me ajude, sabiá, eu quero ir pra terra.
Sabiá: O senhor quer ir de avião, ou quer cair direto de para-quedas? O senhor é quem escolhe.
Alfredo: Não adianta gritar, Andrade, ninguém além de nós irá te escutar.
Sabiá: Que goela boa, Major, parece o senhor em campanha.
Alfredo: Fique calmo, Andrade.
Andrade: É fácil aconselhar paciência, muito fácil.
Sabiá: Mais do que eu tenho. Sou paciente até demais rapazes. Tô só cubando. Tão desaparecendo na calada, mas nego aqui tem que me pagar, o novo e o atrasado. Quero o que é meu e ninguém sai dessa sala sem me pagar.
Alfredo: Sorte nossa não ter ido pra o inferno, comendo o pão que o diabo amassou tendo, que trabalhar pra se manter. Nós temos mais é que agradecer, e muito.
Andrade: Eu sei que você tem razão, mas não dava pra levar o Almir pra outro andar.
Alfredo: Andrade!
Andrade: O que há de se fazer?
Alfredo: E onde fica o perdão? Esse deus que escreveu esse céu sabe o que faz, espero. Vamos atualizar o papo, revelar segredos políticos e dar boas rizadas. Nada de brigas, tudo na paz e com certeza, vai ser uma grande farra. Deixe de ser turrão, homem.
Sabiá: Tão batendo na porta e eu não vou abrir. Ainda estou de greve.
Andrade: Fala do mal, prepara o pau.
Alfredo: O que tá esperando, mulher? Vá atender.
Sabiá: Entre!!!
Gabriel: O que é isso, Sabiá? Irei reclamar ao seu sindicato. Se componha!
Sabiá: Vareite. Acho melhor ir cuidar do meu serviço...Um mensageiro do nosso deus que entregou esse papelzinho pra o senhor, doutor anjo Gabriel. Vou indo pra a copa, mas se precisar de mim é só gritar que eu venho numa perna só.
Alfredo: O que é dessa vez, Gabriel?
Andrade: Eu vou pra terra?
Gabriel: O nosso deus é bom, mas nem tanto.
Alfredo: O que quer dizer com isso, Gabriel? Está ,codificando algo que nós não estamos entendendo.
Gabriel: O todo poderoso arranjou duas vagas com São Benedito, na cobertura do hotel e o Almir ficará aqui junto a outros nomes de Macaíba que estão para serem transferidos!
Andrade: Que maravilha! E viva deus, que chamarei a partir de hoje de meu comandante.
Alfredo: Isso é ótimo! Uma cobertura. Tô quase lá.
Gabriel: O que você quer dizer com isso,Alfredo Mesquita?...tô de olho.
Andrade: Muito obrigado, Anjo!
Gabriel: Sou apenas mensageiro, agradeça ao nosso deus. Agora, se molharem a minha mão, eu posso trocar por uma cobertura de frente para o mar celestial, onde o sol começa a e as estrelas se acalentam nas nuvens, brincando com a lua. O que dizem?
Alfredo: Eu vejo a hora você cobrar os direitos autorais desse texto.
Gabriel: Fazer o que. Vamos, senhores.
Alfredo: Assim, agora...
Andrade: E nossas malas?
Andrade: Vocês estão no céu e tudo já foi providenciado.
Sabiá: Ei! E eu, vou ficar aqui ao léu, jogada no esquecimento, igual a nada? E a minha dívida? Êpa! Depois que eu rodo num pé só, num tem quem me junte. E aí?
Gabriel: Irás com eles, serás hospede e não mais serviçal.
Andrade: Tava bom demais, pra ser verdade.
Gabriel: Agora, vão com as bençãos do nosso deus e o poder da sua caneta, antes que ele se arrependa.
Sabiá: Andem, bando de molengas. E eu vou logo dizendo que não quero desordem na minha suíte. Quero duas empregadas, um mordomo e uma sala só pra os chás. Tudo o que eu sonhei na vida. Na verdade, a vida foi muito cruel comigo, terminei num abrigo, tendo como companhia vários gatos e pedia, pra poder me sustentar e a cidade me infernizando. Chega! Subiu. Agora é só festa. Quem diria. "Sabiá cadê o gato" ladeada por Alfredo e Andrade. Um cheiro no ôio deus!
Gabriel: Vai ficar Sabiá?
Sabiá: Jamais.
Gabriel: Público presente, o dono do hotel, São Benedito, vai mandar reformar este andar, que chamamos de salão de espera, que coincidentemente é este que vocês estão ocupando. Espero que entendam, mas não chegou a vez de vocês, ainda, por isso, precisamos desocupá-lo. Se quiserem um céu interessante e luxuoso como este é só falar comigo antes de se apresentarem a São Pedro. Bem naquele momento do último suspiro, lembrem-se de mim, chame o meu nome;Gabriel, que o restante eu resolvo. Mesmo que não sejam filhos ilustres, porque o importante é ser espírito empreendedor e ter dinheiro celestial, e todo calouro, aqui nesse céu, vem cheio de orações, e quanto ao histórico eu crio. Eu quero ter o meu próprio negócio e com o salário que ganho não dá pra nada. Quem sabe, quando vocês chegarem aqui, eu já tenha o meu próprio hotel. Espero que sim. Na saída, dois querumbins estarão entregando o meu cartão e não esqueçam que estarei aqui, esperando vocês. Boa noite celestial.


Juscio Marcelino
Macaíba /RN, 13 de junho de 1982.




Citações

-Moderna Enciclopédia de pesquisar, consultar e aprender.
Departamento Editorial do Novo Brasil. Editora Ltda. São Paulo /SP, 1982
- MESQUITA, Valério Alfredo – Macaíba de “seu” Mesquita-Natal; edições Clima, 1982.
- Foi de fundamental importância as tardes de conversa com Isabel Cruz (Madrinha Beleza), que muito me contou sobre Macaíba, a apaixonante cidade que transpirava arte. O seu contato com Auta de Souza e a história do teatro macaibense. Ela era encantadora.