quarta-feira, 9 de setembro de 2009

MINES TEXTOS PARA TEATRO QUE ESCREVO DIRECIONADO A UM TRABALHO QUE DESENVOLVO EM SALA DE AULA.

MINE TEXTO PARA TEATRO                        

“BALA NO BREU”

PERSONAGENS:
Bartolomeu
Rita
Cachorra (Bala)

Bartolomeu = Tem coisa que me encafifa, me deixa com o juízo friviando, quando, por exemplo, eu fico comparando a cantoria de hoje, as modas do morro e as do meu sertão. É tudo muito parecido, eu acho. Pra mim é como se fosse a pareia do sofrimento, do ser vivente morto-vivo da marginalização.

Rita = Bartô!..

Bartolomeu = Essa é a voz da minha patroa. A graça dela é Rita e a minha é Bartolomeu, seu criado. Não arrepare meus modo, é porque sou lá do Nordeste, de Acari. Que saudade. E tamo aqui tomando conta desse sítio de um filho meu que veio muito novo, pro sul e graças ao meu bom Deus e santa padroeira do meu bom Acari, ele já fez o seu pé-de-meia.

Rita = Bartô!!

Bartolomeu = Já vai!... A gente sofre sem água, sem terra pra cortar, sem meio de sobreviver, com a morte a espreitar, querendo te lamber e você sobreviver, imigrar... Bonito.

Rita = Ta com as oiça donde Bartolomeu que num me atende? Arre! Umbora pra casa, home!

Bartolomeu = To indo, num já disse! Diacho de pressa.

Rita = Diacho de pressa que nada Bartô! É a mistura que já ta pronta e tu sabe os menino cuma é. Óia, inté Balinha concorda com o que falei. Num é Balinha? Tu num desse o banho em Balinha, home? Vai pra lá puinguenta! Oh Bartô! Bala ta só rabujo! Quando é que tu vai banhar ela, home? Fique aí! Se tu vier atrás de mim, sua rabugenta; te lasco de ponta a ponta! Oia a bichinha, Bartô... Se sobrar um cardinho eu trago, fia. A bichinha... Ta vendo home, inté o bicho bruto quer comer e tu inda fica nesse chove-não-molha, me fazendo de besta... Bartô, eu já te pra tu num ficar proseando com esse povo da vizinhança, mai tu num toma conseio, né home? Num dê trela pra eles! Tu tava com as oiças bem abertas quando o nosso fio falou do povo desse morro... Faça como eu, home, que quase num prosea. Por falar nisso, tu ta proseando com quem mermo? Quem bexiga ta nesse breu que num to vendo? Ou ta tu com a bexiga no couro, com o estopô balaio pra ta falando sozinho?... Vai falar não Bartô? Para Bala? Deixa de esfregado, sua rabugenta! Presta atenção Bartô, antes que eu te mande lá pra aquele lugar, eu vou te dizer logo antes que seja tarde...

Bartolomeu = Que num seja desgraça.

Rita = A Bardira ta prenha.

Bartolomeu = Dessa vez ela viu a cara?

Rita = Que cara?

Bartolomeu = Do cara que embuchou aquela safada.

Rita = Terceira barriga.

Bartolomeu = Só num me diga que foi o espírito santo outra vez.

Rita = Pena que comadre Dalva morreu.

Bartolomeu = Que Deus a tenha em um bom lugar.

Rita = Os dois aborto, nem ralado nós paga o favor.

Bartolomeu = Fez pra tu, Rita! Me tire esse pecado das costas.

Rita = Tu é mermo um burro empacado, Bartolomeu. Home abre os óio! Cuma era que tu ia criar mais dois bacurins se num temo nem pra os que tão vivos?

Bartolomeu = Pra tudo se dava um jeito.

Rita = Agora to encafifada com tu, proseando com esse breu. Quem devera de ta se escondendo que não quer que eu veja as funsas? Eu sei que tu ta querendo me dizer Balinha, mai tu num proseia, mai agora eu vou prosear e se dane se num quiser escutar.

Bartolomeu = Passa pra casa, Rita e deixa de lezeira.

Rita = Já mudou a prosa, seu Bartô? Se aperreou, foi?

Bartolomeu = Deixa de esfrega Bala e passa tu pra casa também.

Rita = Tu ta me comparando com a rabugenta da Bala é Bartolomeu?

Bartolomeu = Deixa de me aporrinhar, Rita. E eu sou lá home de comparar gente com bicho bruto e ainda com essa pulguenta da Bala. E para de me lamber sua infeliz!

Bartolomeu = Você ta querendo se engraçar na frente desse breu, ou de quem ta escondida aí só pra mostrar que é o machão, o homão, o mandão lá de casa, é Bartô?

Bartolomeu = Marche pra casa!

Rita = Pronto! Agora torou a biela no meio e num tem vivente nesse mundo que me tire daqui!

Bartolomeu = Rita...

Rita = O que é?! Vai me bater, vai me esfolar, vai arrancar o meu couro em tira e me chutar nesse chão inté eu botar a tripa gaiteira pela boca.é?!

Bartolomeu = Para Bala! Rita, num me roube o miolo da minha cachola.

Rita = Eu sou uma infeliz. Meu Deus! Os pecados do mundo todo o senhor botou nas minhas costas pra eu carregar!Por quê?! O que é que te devo senhor?!
Bartolomeu = Para de falar heresia, Rita e umbora pra casa de uma vez, muier.

Rita = Sem saber quem ta se escondendo nesse breu? Nem que a bexiga tussa eu num arredo o pé inté essa alma penada sair daí ou eu num me chamo Rita de Cássia. Muito bem Balinha, você tumbém.

Bartolomeu = Home, passe pra casa que to me aporrinhando com essa tua sisma.

Rita = Me solta Bartô, me solta seu safado! Me ajuda Balinha...

Bartolomeu = Não se atreva, Bala!

Rita = Não! Seu criminoso! Cuma é que tu num tem coração, seu bicho bruto! Me mate, me arregace, mai num maltrate a Balinha...Me solta!!!...

Bartolomeu = Arre!

Rita = A bichinha... Deixe quieta Balinha. O que é do homem, o bicho num come, sem querer te ofender, coitadinha. Que mundo cruel, que sina meu Deus! Num tem nada, não Bartolomeu; um dia tu vai espiar pra trás e vai se arrepender de ter me enganado e me humilhado diante desse breu que esconde alguém e de ter chutado a pobrezinha da Balinha que ta com a pata doendo... Num chore Balinha.

Bartolomeu = Tu num veio me chamar pra seiar, entonse, umbora.

Rita = Bartolomeu. Eu já entendi o que é que a Balinha ta tentando me dizer desde que cheguei aqui. Cuma sou jumenta, meu Deus! Cuma é que eu num entendi tudo logo.

Bartolomeu = Ta vendo que esse troço pulguento num ta querendo dizer nada pra tu, Rita. O que ela quer mermo é matar a fome. Ta vendo! Num instante ela se animou.

Rita = Balinha, santa cadelinha, olhe bem na regada dos meus botico e diga latindo...

Bartolomeu = Arre!

Rita = Deixe! Isso é confissão de mulher e de uma menina-moça que é Balinha.

Bartolomeu = E tu espera o que, Rita?

Rita = Me diga minha menina-moça, se nesse breu dos infernos tem algum rabo de saia?

Bartolomeu = Essa já é demais. Tu ta lelé?

Rita = Num se importe com ele Balinha e me arresponda com latido, bem latidosinho. Preste atenção, minha fofinha, que lá vem à pergunta: Me diga com toda verdade do mundo e com a verdade dos cachorros que nunca mentem; se tem rabo de saia nesse breu?... Latiu!! Ta vendo seu cabra safado como um ser vivente num mente. O que é Balinha? Diga minha menina-moça... Latiu mais uma vez! Bartô, Bartô, é prumode disso que tu ta me negando fogo em casa e me deixando doida varada, é Bartô? Onde é que tão essas quengas, essas rameiras destruidoras de casamento honesto! Eu casei moça Bartô, viuge, celada, menina-moça direita cuma é a Balinha e chega hoje, tu ta raparigando com esse bando de quenga que do breu num sai! Me mate, meu Deus que a vida acabou pra mim!

Bartolomeu = Que quenga, Rita. Deixe de inventar.

Rita = Quenga!!! Grito pra toda a vizinhança escutar, que eu sei que já tão com as oiça tudo ligada para asdepois ir fofocar. Ai, meu Deus! Eu quero morrer!!!

Bartolomeu = Ta bom, mai deixa pra morrer em casa asdepois de ceiar, e deitada.

Rita = Como pode você ser tão safado, tão cara de pau, tão água do pé de jarra, tão...

Bartolomeu = Para Bala! Um dia inda saio de casa prumode essa sua besteira.

Rita = Por causa da Balinha, minha cachorra... Você ta me comparando com essa rabugenta de novo, Bartolomeu?...Me rasgo todinha quando ele fica com essa cara de tacho, sem abrir a caçapa e me arresponder, trincando os dente cuma burro mulo e me ignorar. Eu fico irada.
Bartolomeu = Eu já disse que num tem nenhum rabo de saia nesse breu, e mermo que tenha eu num trairia tu com elas.

Rita = E prumode que tu num ta sendo home em casa, Bartô? Correspondendo com a tua obrigação de home?

Bartolomeu = Arre! Só se a fême que to me amigando é Balinha. Né Balinha?

Rita = E a safada inda abana o rabo.

Bartolomeu = Deixe a bichinha.

Rita = Péra lá! Essa sem vergonha... Bartô... Num me diga que tu ta se enrabichando pro lado dessa inocente... Olha pra mim Bartô, me presta atenção... É a última vez que eu vou perguntar e se tu num me arresponder, tu já sabe o que eu sou capaz de fazer. Tu sabe, né,Bartô? Vai pra lá sua quenga!, Traidora, acaba matrimônio, infeliz das costas oca. Arre que ódio!! Nas minhas funsas e eu como sega, num via. A vontade que me dá é de estrangular os dois. Só imagino esse monstro, tarado puxando na rabada dessa infeliz e ela revirando os ôio de prazer. Quero morrer, meu Deus de desgosto! Eu só quero que Deus me segure pra num fazer um estrago nas beiras dessa cachorra safada... Vai pra lá!!.. E no mijador desse troço que pra mim num arriba, mai pra safada... Óia a senvergonha. Essa traidora inda se diz ser minha amiga. Eu! Era eu que te dava comer e te banhava pra esse monstro...

Bartolomeu = Eu já disse que num traio tu com ninguém! Nem mermo com essa infeliz, que Deus me livre.

Rita = E cuma é que tu ta com essa pêia mole em casa, nas hora do rala pimba, Bartô? Me arresponda, se tu num ta frutificando com ninguém, seu Bartolomeu da Silva Junior! Seja home e me arresponda!.. Se tu baixar essa mão na minha cara, aí sim, tu num será home nunca mai na tua vida.

Bartolomeu = É um problema.

Rita = Que problema é esse? Tu virou mulé, é Bartô?

Bartolomeu = Num é isso Rita.

Rita = Entonse tu é uma florzinha? Meu Deus, eu passei esses vinte e quatro ano casada com um home mulé e só vim notar agora. Prumode o que tu me enganou esse tempo todo?

Bartolomeu = Num é isso Rita!

Rita = E é o que seu infeliz das costas ocas? Me diga agora prumode essa pêia ta morta pra mim!

Bartolomeu = Eu fui num doutor e ele me disse...

Rita = Escondido de eu Bartolomeu? Você num confia mai em neu que sou sua mulé! Mai com os outro tu se abriu, e ói se tu num se arreganhou, enquanto eu, esse tempo todo me martirizando, pensando que era eu, o azar do nosso bate-cocha. Tu num sabe Bartô, o monte de milacria que eu passei nas minha beira. Inté urtiga braba me ensinaram pra surrar a bichinha. E o formigueiro que assanhei e asdepois sentei em riba. Tudo pra te fazer feliz, pensando que a má era eu, morrendo de raiva, doida pra me trepar nos caibo, mai tu num se abalava, sempre caladão. Me ensinaram inté botar chifre em tu, com tu vendo, mai eu te respeitei e por trás, tu com segredo, indo pro doutor, todo lorde, enquanto eu me lascava com remédio do mato. Agora eu fico me perguntando prumode eu num te mato Bartô.

Bartolomeu = Tu me ama, e eu tumbém te amo Rita, é prumode isso que tu num me mata.

Rita = Oh Bartô, dessa maneira tu me deixa toda melosa.

Bartolomeu = E quanto ao doutor, ele passou um remédio que já to tomando e logo ficarei bom. Eu tava aqui, matutando, oiando pra esse breu, mastigando o meu juízo de cuma é parecido à música da roça com a música do morro, a que esses rapazotes cantam aqui, os nosso vizinho.

Rita = Inda bem que tu vai ficar bom, home. To doidinha. Bora comer Bartô, se é que ainda tem.

Bartolomeu = É Rita, vamo ver se os menino deixaram alguma beira pra nós.

Rita = Sabe Bartô, que agora me deu sardade de uma coisa.

Bartolomeu = Da roça?

Rita = De beijo.

Bartolomeu = Arre.

Rita = Vem cá Bartô, antes de chegar em casa, e vamo aproveitar esse breu. Ta vendo, inté Balinha concorda comigo.

Bartolomeu = Vamo pra casa e amastarde prometo. Vamo.

Rita = Viche! Me deu aquele calorão. Umbora amor.

Juscio
Macaíba /RN, 05/02/2006

Nenhum comentário:

Postar um comentário