terça-feira, 1 de setembro de 2009



MINE TEXTO PARA TEATRO

“A revolta do peido”



PERSONAGENS:

João
Guido
Firmina


João = O que mais me intriga e eu acho que a todo ser pensador, é essa história de que todo ser humano na face dessa terra, e também, os animais que não tem pensamento e querer, todos, sem tirar ou botar, sem nenhuma descriminação, do pequeno ao grande, do feio ao bonito, do pobre ao rico, todos peidam, como se a terra fosse um grande peidodromo, mas o que me encafifa é que todos ficam escondendo, se prendendo, como se fosse a pior coisa do mundo.

Guido = Eu não nego um peido a ninguém.

João = E o bom é que se você solta um daqueles que já bateu umas duzentas vezes na tampa do cu, doido pra se libertar, querendo aliviar o corpo da pressão, coisa que é pra o nosso bem, ele saindo com todo seu esplendor, poder e glória, majestosamente se espalhando pelo ambiente sem pedir licença ou permissão, você e todos que estão no ambiente negam, aquela grande obra vaporizaste. Todos negam. E é dessas que eu não agüento. Porque negar?

Guido = Num peidou, porque não assume.

João = Nega até a morte e ainda têm a coragem e ousadia pra ficarem caluniando os outros e juram de todas as maneiras que foi o outro e não ele, e ainda afirmam que não peidam, que tem o furico educado e se um dia soltasse o dele não federia, seria muito silencioso e sem odor.

Guido = Compadre João, existe escola pra furico aprender peidar?

João = Compadre Guido, quando dizem que o fiofó é educado, eu não agüento, não dá pra ficar calado.

Guido = Compadre João, eu to aqui matutando com o meu juízo tudo o que o senhor falou, que inté parece um doutor, e a sua prosa todinha é o ta peido, que inté ta me parecendo que é a coisa mais importante do mundo.

João = E não é compadre Guido?

Guido = Em parte o senhor tem razão.

João = Olhe aí.

Guido = Em parte, compadre. Que o Nosso Senhor Jesus Cristo, o pai, a mãe e o espírito santo não me castiguem no que vou dizer: mai se Deus todo poderoso, pai de todos os viventes que se apruma em riba dessa terra fez o home tal qual ele é, entonse, quer dizer, se ele é ta quá noi, entonse, ele tumbém... Né compadre?

Firmina = Que as cinco chagas do Nosso Senhor Jesus Cristo, que as lágrimas sagradas da sua santíssima mãe, a Virgem Maria e todos os santos, anjos e arcanjos do céu limpem o meu pensamento do que acabei de ouvir Coisa que jamais pensei um dia, de ouvir em forma de uma heresia sem tamanho. Te desconjuro infitete, inimigo de Deus. Desarreda bicho mulo dessa terra e vai pra bem longe de pessoas de bem como eu e o seu João. Seu encruado, donzelo, binribole, fitete...

João = Se acalme dona Firmina e não fique tão espantada com o que o compadre Guido falou. Se a senhora parar e prestar um pouco de atenção, vai perceber que ele tem certa razão.

Firmina = Até tu, seu João, tas virando incrédulo na influência dessa coisa ruim? Nunca em toda minha vida escutei falar que santo fizesse essa safadeza. Uma freira, um padre, até um coroinha que é menor, nunca ouvir falar isso, imagine o onipotente. Tente-se vigiar seu João, porque o mal ta só esperando uma brecha pra atacar.

João = Mas dona...

Firmina = Pare de me chamar de dona e de senhora seu João. Bem sabes que eu sou virgem, pura e celibatada, prendada, conhecedora de todos os afazeres de uma donzela direita e pronta pra se casar. Sou devota fervorosa da Virgem Santíssima, de Santa Ana e do escapulário das três devoções, por tudo isso me respeite e me chame por senhorita Firmina da Consagração e Silva, filha de pais honrados já falecidos, que Deus os tenha em um bom lugar, que nós rezamos de cá.

João = Mais Firmina...

Firmina = Senhorita, seu João, por favor.

Guido = Quer dizer que a senhorita nunca peidou?

Firmina = Oh, seu João, esse imoral querendo manchar a minha honrada reputação. Defenda a minha honra que esse... Coisinha está querendo manchar.

João = O que nós estamos conversando é que alguém deu o primeiro peido. É aquela velha história do ovo e da galinha, quem veio primeiro.

Firmina = Estou rubra de tanta vergonha.

Guido = entonse, o compadre quer dizer que Adão foi o primeiro peidão?

Firmina = Alto lá! Mesmo passada de vergonha, mas estou pronta pra defender a honra do povo de Deus e por Adão posso até brigar.

Guido = Adão num era gente de carne e osso? Cuma ele num podia peidar? Era tapado?

Firmina = Tapado é você seu mulo. Não sabe que Adão morava no paraíso e lá ele só comia fruta, e aquilo ele não precisava realizar. E no paraíso, as coisas do demo não podiam entrar.

Guido = E o buraquinho, o furiquinho, o fiofó, a rosca, o boga, o ôio de padre, quer dizer que Adão num tinha, não?

Firmina = De reto! Vai pra lá filho do coisa ruim e deixa a história sagrada em paz. O povo santo não faz essa imundice que só você é capaz.

Guido = entonse a senhorita que é santa tumbém, nunca deu uma bufa?

Firmina = Ta vendo seu João o que esse coisa ruim ta tentando fazer com uma moça honrada, de família e que ta prestes a ter um ataque de nervos. Veja como estou, seu João, toda me tremendo.

Guido = Trema, chaqualeje, mai só não venha bufar podre aqui.

Firmina = Eu mato esse desnaturado, eu mato!

Guido = De peido?

João = Pare com isso Guido, e quanto à senhorita, se acalme, que o Guido ta só brincando.

Firmina = Pois mande isso aí me respeitar porque sou pura e quase santa, e pronta pra se casar.

Guido = Quer dizer que o fedorento a senhorita não tem, mas casar quer.

Firmina = Sim senhor e não vejo pecado nisso, principalmente com um homem devoto que vai a igreja rezar, assim como o seu João, por exemplo, não querendo ser oferecida, nem pensar, mas to falando só por exemplo, só pra o senhor me respeitar.

Guido = Desse mal do desejo inda vou passar e uma bufa de torar o peido no meio eu quero dar e por esse motivo que me vou arretirar.

Firmina = Já vai tarde.

João = Não se apresse meu compadre, por que todo mundo pode peidar, estamos decretando liberdade pro peido, pra ele se sentir livre para reinar, e já to imaginando os afinados, até em teatro eles vão se apresentar. Não vá, fique compadre que ainda temos muito que prosear, vamos discutir bem direitinho; daqueles que começa na boca e vai passando pela prega pseleuca, até o polegar. Vamos revolucionar essa cidade, onde todo mundo possa livremente peidar.

Firmina = Eu fico espantada. Como é que o senhor, seu João, um homem que é de respeito e estirpe, o letrado desse fim de mundo, a pessoa que aconselha os necessitados e também um homem que toda mulher quer como marido, ficar dando trela para esse seu Guido que é um imoral, indecente, que nenhuma senhorita e donzela juramentada como eu falaria, ao contrário, mudaria de calçada e não daria um bom dia. Eu sei que o senhor, cavalheiro como é, bonito, viril e educado, não me leve a mal, mas só deve estar falando sobre esse assunto só para não fazer uma desfeita, um homem garboso e tão bom como o senhor é não estaria falando por falar, de um assunto tão...

Guido = Fedorento?

Firmina = Não se meta seu indecente!

Guido = Mai foi ele que deu vida ao bichinho. E pra ver que to inté agora segurando o meu fiofó em respeito à senhorita.

Firmina = (peida forte) Meu Deus!

Guido = Eita bexiga, a virgem pura se cagou!

Firmina = Ai que vergonha meu Deus, não sei como isso veio acontecer.

Guido = Se a senhorita não sabe...

João = Afrouxou a pseleuca, senhorita ?

Firmina = Meu Deus, isso nunca me aconteceu.

Guido = Deve ter sido o capeta que puxou a sua pseleuca e arrombou o buraquinho.

Firmina = Eu só queria meu Deus que a terra se abrisse e me engolisse de tanta vergonha.

Guido = Espie bem direitinho se a força do peido não abriu aí, um buraco no chão.

Firmina = Seu João, me ajude, o que o senhor vai fazer?

João = Agradecer a senhorita por ser a primeira a se revoltar, contribuindo com o seu peido para a luta começar, e agora vamos todos pra praça pública pedir ao povo pra se liberar!

Guido = E viva o peido e dona Firmina peidona!

Firmina = Nunca pensei de ser tão humilhada e jamais irei participar de uma luta tão...

Guido = Fedorenta. Viva a primeira dama do peido!

Firmina = Fique vocês com suas safadezas que irei pra igreja pedir perdão.

Guido = Vaite fedorenta, peido de açoite, arromba quarteirão! Vaite troço!

João = Vamos indo embora também, seu Guido que já ta escurecendo e a patroa gosta de muito cedo ceiar.

Guido = Viver peidando ou sem peidar, eis a questão.

João = O compadre Guido ta até falante.

Guido = É aquele peido que a muito ta guardado, que ta dando um nó na roseta, que já deu três trambiques no ôio do meu fiofó e ta se preparando pra sair de açoite, acabando com tudo pela frente, principalmente os seres viventes.

João = Peido dormido é peido oprimido e esses são os piores. Perna pra que te quero? Correr! Até mais seu Guido.

Guido:E aqui eu fico esperando o mundo se acabar, esse mundo que é muito interno e que cada um tem, aqui ou em qualquer lugar. Imagine a somatória de todos esses gases, uma bomba atômica poderosíssima iria se formar. Mas como diz o meu amigo João; que povinho individualista. Inté pessoal!

Juscio
Macaíba 09/10/2005


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